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Portas lacradas
Por Chibiusa-chan

Disclaimer : Saint Seiya não me pertence, mas a Masami Kurumada.

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Feita para o IV Desafio do MRS

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“You only see what your eyes want to see
How can life be what you want it to be
You're frozen when your heart's not open
You're so consumed with how much you get
You waste your time with hate and regret
You're broken when your heart's not open

Mmm-mm-mm... If I could melt your heart
Mmm-mm-mm... We'd never be apart
Mmm-mm-mm... Give yourself to me
Mmm-mm-mm... You hold the key”
(1)

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- Só você não percebe que tudo o que estou fazendo é tentar me livrar de você ?

Aquilo doeu dentro do cavaleiro de Escorpião como se fosse uma própria picada. Era como se o amor que sentia pelo cavaleiro a sua frente tivesse se tornado veneno e ele assinasse a sua sentença de morte.

- Se cansou do seu brinquedinho, Kamus ? Pois não era o que parecia ontem, enquanto você me tinha em sua cama ! – falou com fúria, empurrando-o contra uma pilastra e apertando seu pescoço.

O ciclo vicioso que tinham entrado o estava cansando, finalmente. Talvez matá-lo ali fosse uma boa opção.

- Você se envolveu demais. Sempre te avisei que era só sexo. Não me deixaria levar por ninguém, em especial um do seu tipo.

- Claro, a culpa sempre é minha. – falou irônico – Só alguém tão estúpido poderia ter se apaixonado por uma porta.

- Azar o seu. Apenas me solte. – falou frio.

- Por que você simplesmente pára de agir feito um insensível ? Eu sei que tem calor no seu coração, Kamus, eu sei que você me ama. Por que você não aceita isso ?

- Não vou aceitar algo que simplesmente não existe, Escorpião.

- Como não ? Quer dizer que só eu ansiava pelos beijos, pelos olhares que quase nunca vinham, pelos breves toques, pelos convites para as noites em que fazíamos amor ?

- Sexo. Quer que eu soletre pra você ?

Miro não se segurou. Desferiu um tapa forte no rosto de Kamus, que revidou-lhe com um soco no estômago. O grego sentiu o ar faltar e dobrou-se.

- Você se apaixonou, eu não. Agora não venha me falar de uma relação que não existe. Isso é patético. Você é patético. É bonito, bom de cama. Ponto. Mais nada.

- Você que não aceita os seus próprios sentimentos. – o outro falou entre os dentes – Tem medo das proporções que podem tomar. Se você se entregasse de verdade a mim, não se arrependeria.

- Já me arrependo do pouco que aconteceu até agora. É suficiente.

- Isso não é viver, Kamus ! – falou alto – É apenas passar pela vida. Viva, viva desesperadamente !

O cavaleiro de ouro de Aquário deu-lhe as costas, caminhando em direção ao próprio templo. Miro suspirou, derrotado. Sabia que ambos eram teimosos demais e que aquilo tudo não iria levar a nada. Talvez, se ele tentasse de uma outra maneira...

Mas, no fundo, sabia que já estava cansado daquele jogo tanto quanto o outro.

Sentia que eles poderiam ter dado muito certo juntos. Queria acreditar que o outro também o amava, que aquilo era apenas covardia de admitir que tudo que sempre pregara sobre não se envolver demais estava errado e que precisava dele para sorrir mais.

E era esta sensação que sempre o fazia a continuar dando murros na ponta daquela faca gelada chamada Kamus. E a dor que ele sentia o fazia querer morrer.

Sim... Ele sabia que Kamus precisava dele para poder viver. Mas estar do lado dele daquele jeito angustiante significava matar-se lentamente. Descobrira da pior maneira que os opostos não apenas se atraíam, mas se anulavam por completo.

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“Now there's no point in placing the blame
And you should know I suffer the same
If I lose you, my heart would be broken
Love is a bird, she needs to fly
Let all the hurt inside of you die
You're frozen when your heart's not open”

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Kamus havia sido enterrado naquela manhã. Todos os cavaleiros sobreviventes tinham comparecido a cerimônia, exceto um.

Aquele que se matava toda vez que estava a seu lado, apenas para que ele pudesse viver. Incompreendido por ele, humilhado. Era como se o coração de Miro tivesse sido trocado por um buraco negro que sugava toda a sua força de vontade.

Caminhava trôpego até o túmulo, o sol da tarde mais brando que o normal. Como se tudo estivesse mais frio ao redor daquele lugar. Tropeçava algumas vezes e trazia uma garrafa de vinho pela metade, cambaleando. Parou em frente a lápide e leu em voz alta, com a voz pastosa.

- Kamus de Aquário.

Piscou algumas vezes, processando a informação. Deu uma golada no vinho, que escorreu pelo seu queixo e manchou a camisa, mas ele não se importou. Sorriu um tanto nervoso.

- Kamus, Kamus... Agora você está aí, morto, mas eu estou vivo, sabe ? – passou a mão livre pelos cabelos – Se você pensa que eu vou cair de joelhos, chorando e me amaldiçoando por ter deixado Hyoga passar pelo meu templo, está enganado ! – levantava os braços, falando alto, como se o outro pudesse ouvi-lo – Vou sair todas as noites, beber até cair e me deitar com todo mundo desta cidade ! – sentiu os olhos embaçarem levemente e falou ainda mais alto – Porque eu estou vivo, está me entendendo ? Vivo ! Vivo ! Tem calor correndo nas minhas veias, eu não sou um idiota gelado que nem você ! Eu quero viver !

Gritava com raiva, derrubando a garrafa no chão. Num acesso de fúria, chutou a lápide, o pé quase quebrou. Sentiu a dor lancinante pela perna toda e caiu no chão, sem forças.

Era aquela dor que o fazia se sentir vivo, ao contrário dele.

Respirou fundo e deu uma gargalhada alta, gostosa. Riu com todas as suas forças, como se fosse a última coisa que iria fazer em vida. Era uma risada angustiada, era o riso do desespero em saber que o grande amor da sua vida estava ali, sete palmos abaixo dele.

E que tudo, finalmente, não tinha mais volta. Era definitivamente o ponto final daquele ciclo vicioso que tinham entrado.

E, com a gargalhada, vieram as lágrimas. As primeiras derramadas desde a luta na casa de Aquário. O riso virou choro, a ironia se transformou num desabafo mudo. Ficou em posição fetal, apenas chorando tudo aquilo que não tinha conseguido extravasar até então.

Porque ele finalmente tinha compreendido a extensão do seu amor pelo outro e finalmente tinha se dado conta que o perdera para sempre. Que nunca mais ouviria os seus comentários ácidos e nem tampouco seria mais humilhado por ele. Ao invés de soar libertador, aquilo lhe parecia um inferno.

Pois, apesar de tudo, a simples presença do outro lhe era um consolo. Tinha certeza de que não conseguiria esquecê-lo, o que sentia estava enraizado demais a ponto de fazer parte da própria personalidade.

Ele apenas amava. Ponto. O verbo não precisava de complemento.

No fim das contas, ele não conseguira penetrar na muralha de gelo que era o coração do outro. Se tivesse conseguido, talvez Kamus tivesse hesitado e não teria se jogado de cabeça em direção a morte. Sentia uma tristeza por não poder saber ao menos os últimos pensamentos daquele que amara mais do que tudo.

- Porque você era a única porta que eu queria abrir de verdade...

Miro adormeceu tendo a certeza de que nunca se libertaria daquele sentimento. Era a sua maneira de manter um pouco do francês dentro do Santuário.

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“If I could melt your heart...”

Fim

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Nota :

(1) A música se chama Frozen, da Madonna.

PS.: Esse meu bebê foi vencedor do IV desafio do MRS. Caso queira ver o award, é só ir em http://i7.photobucket.com/albums/y259/Chibiusa-chan/Personal/award-IV.jpg. ^_______^

Por Chibiusa-chan.

08 de dezembro de 2006.