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Portas lacradas Disclaimer : Saint Seiya não me pertence, mas a Masami Kurumada. - # - # - Feita para o IV Desafio do MRS - # - # - You only see what your eyes want to see Mmm-mm-mm... If I could melt your heart - # - # - - Só você não percebe que tudo o que estou fazendo é tentar me livrar de você ? Aquilo doeu dentro do cavaleiro de Escorpião como se fosse uma própria picada. Era como se o amor que sentia pelo cavaleiro a sua frente tivesse se tornado veneno e ele assinasse a sua sentença de morte. - Se cansou do seu brinquedinho, Kamus ? Pois não era o que parecia ontem, enquanto você me tinha em sua cama ! falou com fúria, empurrando-o contra uma pilastra e apertando seu pescoço. O ciclo vicioso que tinham entrado o estava cansando, finalmente. Talvez matá-lo ali fosse uma boa opção. - Você se envolveu demais. Sempre te avisei que era só sexo. Não me deixaria levar por ninguém, em especial um do seu tipo. - Claro, a culpa sempre é minha. falou irônico Só alguém tão estúpido poderia ter se apaixonado por uma porta. - Azar o seu. Apenas me solte. falou frio. - Por que você simplesmente pára de agir feito um insensível ? Eu sei que tem calor no seu coração, Kamus, eu sei que você me ama. Por que você não aceita isso ? - Não vou aceitar algo que simplesmente não existe, Escorpião. - Como não ? Quer dizer que só eu ansiava pelos beijos, pelos olhares que quase nunca vinham, pelos breves toques, pelos convites para as noites em que fazíamos amor ? - Sexo. Quer que eu soletre pra você ? Miro não se segurou. Desferiu um tapa forte no rosto de Kamus, que revidou-lhe com um soco no estômago. O grego sentiu o ar faltar e dobrou-se. - Você se apaixonou, eu não. Agora não venha me falar de uma relação que não existe. Isso é patético. Você é patético. É bonito, bom de cama. Ponto. Mais nada. - Você que não aceita os seus próprios sentimentos. o outro falou entre os dentes Tem medo das proporções que podem tomar. Se você se entregasse de verdade a mim, não se arrependeria. - Já me arrependo do pouco que aconteceu até agora. É suficiente. - Isso não é viver, Kamus ! falou alto É apenas passar pela vida. Viva, viva desesperadamente ! O cavaleiro de ouro de Aquário deu-lhe as costas, caminhando em direção ao próprio templo. Miro suspirou, derrotado. Sabia que ambos eram teimosos demais e que aquilo tudo não iria levar a nada. Talvez, se ele tentasse de uma outra maneira... Mas, no fundo, sabia que já estava cansado daquele jogo tanto quanto o outro. Sentia que eles poderiam ter dado muito certo juntos. Queria acreditar que o outro também o amava, que aquilo era apenas covardia de admitir que tudo que sempre pregara sobre não se envolver demais estava errado e que precisava dele para sorrir mais. E era esta sensação que sempre o fazia a continuar dando murros na ponta daquela faca gelada chamada Kamus. E a dor que ele sentia o fazia querer morrer. Sim... Ele sabia que Kamus precisava dele para poder viver. Mas estar do lado dele daquele jeito angustiante significava matar-se lentamente. Descobrira da pior maneira que os opostos não apenas se atraíam, mas se anulavam por completo. - # - # - Now there's no point in placing the blame - # - # - Kamus havia sido enterrado naquela manhã. Todos os cavaleiros sobreviventes tinham comparecido a cerimônia, exceto um. Aquele que se matava toda vez que estava a seu lado, apenas para que ele pudesse viver. Incompreendido por ele, humilhado. Era como se o coração de Miro tivesse sido trocado por um buraco negro que sugava toda a sua força de vontade. Caminhava trôpego até o túmulo, o sol da tarde mais brando que o normal. Como se tudo estivesse mais frio ao redor daquele lugar. Tropeçava algumas vezes e trazia uma garrafa de vinho pela metade, cambaleando. Parou em frente a lápide e leu em voz alta, com a voz pastosa. - Kamus de Aquário. Piscou algumas vezes, processando a informação. Deu uma golada no vinho, que escorreu pelo seu queixo e manchou a camisa, mas ele não se importou. Sorriu um tanto nervoso. - Kamus, Kamus... Agora você está aí, morto, mas eu estou vivo, sabe ? passou a mão livre pelos cabelos Se você pensa que eu vou cair de joelhos, chorando e me amaldiçoando por ter deixado Hyoga passar pelo meu templo, está enganado ! levantava os braços, falando alto, como se o outro pudesse ouvi-lo Vou sair todas as noites, beber até cair e me deitar com todo mundo desta cidade ! sentiu os olhos embaçarem levemente e falou ainda mais alto Porque eu estou vivo, está me entendendo ? Vivo ! Vivo ! Tem calor correndo nas minhas veias, eu não sou um idiota gelado que nem você ! Eu quero viver ! Gritava com raiva, derrubando a garrafa no chão. Num acesso de fúria, chutou a lápide, o pé quase quebrou. Sentiu a dor lancinante pela perna toda e caiu no chão, sem forças. Era aquela dor que o fazia se sentir vivo, ao contrário dele. Respirou fundo e deu uma gargalhada alta, gostosa. Riu com todas as suas forças, como se fosse a última coisa que iria fazer em vida. Era uma risada angustiada, era o riso do desespero em saber que o grande amor da sua vida estava ali, sete palmos abaixo dele. E que tudo, finalmente, não tinha mais volta. Era definitivamente o ponto final daquele ciclo vicioso que tinham entrado. E, com a gargalhada, vieram as lágrimas. As primeiras derramadas desde a luta na casa de Aquário. O riso virou choro, a ironia se transformou num desabafo mudo. Ficou em posição fetal, apenas chorando tudo aquilo que não tinha conseguido extravasar até então. Porque ele finalmente tinha compreendido a extensão do seu amor pelo outro e finalmente tinha se dado conta que o perdera para sempre. Que nunca mais ouviria os seus comentários ácidos e nem tampouco seria mais humilhado por ele. Ao invés de soar libertador, aquilo lhe parecia um inferno. Pois, apesar de tudo, a simples presença do outro lhe era um consolo. Tinha certeza de que não conseguiria esquecê-lo, o que sentia estava enraizado demais a ponto de fazer parte da própria personalidade. Ele apenas amava. Ponto. O verbo não precisava de complemento. No fim das contas, ele não conseguira penetrar na muralha de gelo que era o coração do outro. Se tivesse conseguido, talvez Kamus tivesse hesitado e não teria se jogado de cabeça em direção a morte. Sentia uma tristeza por não poder saber ao menos os últimos pensamentos daquele que amara mais do que tudo. - Porque você era a única porta que eu queria abrir de verdade... Miro adormeceu tendo a certeza de que nunca se libertaria daquele sentimento. Era a sua maneira de manter um pouco do francês dentro do Santuário. - # - # - If I could melt your heart... Fim - # - # - Nota : (1) A música se chama Frozen, da Madonna. PS.: Esse meu bebê foi vencedor do IV desafio do MRS. Caso queira ver o award, é só ir em http://i7.photobucket.com/albums/y259/Chibiusa-chan/Personal/award-IV.jpg. ^_______^ Por Chibiusa-chan. 08 de dezembro de 2006. |