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AVISO: Cabe avisar, esta história é trash, no melhor estilo de alguns filmes dos anos 80. Portanto prepare-se para coisas como vampiros andando de dia e piadas um tanto infames. Se não gostar disso, não siga em frente.

 

A Revolução dos Vampiros

 

“O levante de São Paulo”

 

“Naqueles dias os homens buscarão a morte, e de modo algum a acharão; e desejarão morrer, e a morte fugirá deles. A aparência dos gafanhotos era semelhante à de cavalos aparelhados para a guerra; e sobre as suas cabeças havia como que umas coroas semelhantes ao ouro; e os seus rostos eram como rostos de homens. Tinham cabelos como cabelos de mulheres, e os seus dentes eram como os de leões”.  Apocalipse 9,  6 a 8.

 

Prólogo

 

O planeta Terra. O único orbe habitável que se conhece. Ou pelo menos o único que nós conhecemos. Mas esta história não é sobre alienígenas. É sobre uma sociedade que vive secretamente entre nós há séculos, sempre velada e perseguida: os vampiros.

Sim, os vampiros. Se no início do século XXI somos cerca de seis bilhões de pessoas, estima-se que sete milhões sejam vampiros. Muitos vivem bem perto de nós, levando uma vida aparentemente normal, e nós nem desconfiamos. Alguns convivem diretamente conosco. Mas é realmente difícil identificar um vampiro. Eles são iguais a todos... Aparentemente.

Sabe-se que na Baixa Idade Média já existem registros deles. Seres “sugadores de sangue”, inimigos de Cristo. Mas os vampiros são muito mais que isso. Um vampiro é um ser humano com uma triste sina: tem que sugar sangue alheio para continuar vivo, e esse “alheio” não pode ser outro vampiro. Sangue de peixes, répteis, anfíbios, aves, mamíferos... E humanos. Todos os humanos mordidos por vampiros também se transformam em vampiros 24 horas após a morte.

Os vampiros por séculos estiveram divididos em dois grupos: os “moderados”, a minoria, que vivem de sangue de animais e querem uma convivência pacífica com os humanos, temendo uma guerra entre os dois grupos, e os “radicais”, a grande maioria, que vivem de sangue humano e defendem um conflito conosco, para que os vampiros possam finalmente deixar de ser uma minoria oculta para governarem o planeta. Os radicais descendem do terrível Conde Drácula, o primeiro vampiro de que se tem notícia, enquanto os moderados vêm da doce Mara Juklinsky, princesa romena vítima do terrível conde.

Algumas características dos vampiros são que possuem três formas: a normal e mais conhecida, com os enormes caninos e pele pálida, a forma humana, que usam para se disfarçar, e também a de morcegos, usada para espreitar a presa e dormir. São, nas três formas, praticamente invulneráveis e possuem força sobre-humana. Têm hábitos noturnos, dormindo pouco (cerca de quatro horas por dia). Pontos fracos: água benta, crucifixos, estacas de madeira e alho. Diz a lenda que todos os vampiros, radicais ou não, estou sujeitos à mesma punição divina sofrida pelo Conde Drácula quando mergulhou no mundo das trevas. E muitos vampiros o veneram como um deus.

Alguns exemplos de famosos vampiros radicais: Ivan, O Terrível, o Marquês de Pombal, Napoleão Bonaparte, Adolf Hitler, Carlos, O Chacal... Os moderados sempre foram mais discretos, preferindo o campo das artes. Nos anos 90 e início do século XXI, vários deles formaram conhecidas bandas de rock (não citarei nomes), e alguns radicais também. Na verdade foram poucos os moderados que ousaram interferir no progresso da humanidade. Eles são conhecidos por serem covardes, no mundo dos vampiros. Mas para começar a contar esta história quero falar de um vampiro radical que viveu cerca de cem anos (é um fato conhecido que os vampiros vivem por séculos), morrendo no século XVII, na flor da idade: João Manuel da Cunha Coimbra, mais conhecido como “Manuel Maligno”. Esse vampiro fazia parte da alta corte portuguesa na época da colonização do Brasil, tanto que em 1603 transferiu-se para a colônia, trazendo consigo vários servos, também vampiros. Ele estabeleceu-se na região onde hoje é a cidade de São Paulo, mas logo os colonos descobriram seu segredo, quando flagraram-no mordendo o pescoço de uma índia, que também se tornaria uma vampira. João Manuel foi preso e mantido no Mosteiro de São Bento, na época ainda em construção, onde perdeu seus poderes quando um monge lhe aspergiu água benta. O “Manuel Maligno” foi queimado na fogueira no dia 11 de agosto de 1605, acusado de heresia e bruxaria, na frente do mosteiro em obras. Mas os monges não contavam com uma coisa. João Manuel era descendente direto do Conde Drácula, e essa classe de vampiros tem algo em seu sangue que evita que eles morram completamente. Após seu corpo ser queimado na fogueira, o coração de “Manuel Maligno” continuou intacto e pulsante. Havia no mosteiro um monge chamado José Mendes, que conhecia os segredos dos vampiros, e ele sabia que um coração de vampiro descendente de Drácula só poderia ser destruído por outro vampiro do mesmo sangue. Assim o coração de João Manuel foi trancafiado nas catacumbas que ficam sob o Mosteiro de São Bento, onde ficam os restos mortais dos monges, após a conclusão da obra. Foi a partir desse incidente que começou o vampirismo no Brasil.

O tempo passou, a cidade de São Paulo transformou-se na metrópole que é, e os monges do Mosteiro de São Bento continuam mantendo por gerações o segredo do coração do vampiro João Manuel. Porém, no “Livro de Profecias dos Vampiros”, escrito pelo próprio Conde Drácula e livro sagrado dos vampiros radicais, há um trecho que realmente me assustou:

 

Todo aquele que for meu descendente direto e sofrer das mesmas dores que sofro, chorar as mesmas lágrimas que choro, e sugar o mesmo sangue que sugo, e morrer nas mãos de meus inimigos, só poderá ter seu coração destruído por outro da mesma raça que tenha seu sangue correndo pelas veias. E enquanto esse coração pulsar, seja onde for, a cada quatrocentos anos, tempo de vida de um vampiro, haverá um levante na região onde esse coração estiver, que servirá para vingar a alma desse vampiro. E esse levante, se triunfante, terá poder para conquistar todo reino e principado em meu nome, aniquilando a escória dos homens.

 

Eu chequei todas as ocorrências de vampirismo nos últimos quatrocentos anos e o resultado me assustou: o único vampiro descendente direto de Drácula morto por humanos foi “Manuel Maligno”, em 1605. Isso significa que este ano, na cidade de São Paulo, haverá um levante de vampiros radicais. Entre os milhões que vivem na cidade, cento e cinqüenta mil são vampiros, a maior comunidade na América do Sul. E isso poderia significar o fim para a humanidade. Após tantas revoluções, tanto de esquerda quanto de direita, haveria agora um novo tipo de guerra, um novo tipo de revolução... A “Revolução dos Vampiros”.

 

Ernest Adams, agente do FBI, 1/8/05.