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Quando o navio atracou no porto da cidade de Slateport, me senti preparada para o Grande Festival. A primeira parte eu já havia concluído: pegar todas as fitas dos torneios. E agora, aqui em Slateport, eu tive a certeza de que iria me sair bem.

Peguei minhas malas e saí do navio. O clima estava perfeito para praia, mas não era isso que eu vim fazer aqui. Fui direto ao Centro Pokémon verificar se tinha algum quarto sobrando no hotel.

Enquanto andava pelas ruas, fui olhando as pessoas. A maioria, é claro, eram coordenadores assim como eu que estavam aqui pelo mesmo motivo: O Grande Festival e a chance de receber o título de Top Coordenador.

Esse título é super disputado por todos os coordenadores. É como se fosse o título de Mestre Pokémon para os treinadores.

O Centro Pokémon estava lotado. Demorei um pouco para finalmente conseguir passar por toda aquela gente e entrar no centro.

A enfermeira Joy estava quase ficando maluca. Havia muita gente falando com ela ao mesmo tempo e ela teve que chamar ajudantes para diminuir aquela algazarra. Quando finalmente fui atendida e perguntei para ela se tinha algum quarto sobrando, ela me respondeu que não; que todos os quartos já estavam reservados.

Saí preocupada. Onde eu iria dormir? O Grande Festival iria acontecer amanhã e eu tinha que achar algum lugar para passar a noite.

Decidi caminhar um pouco para esfriar a cabeça e pensar em alguma coisa. Fui até a praça central e me sentei em um banco. Tirei Glaceon da pokébola e o pus no meu colo.

Glaceon. Me lembro de quando ele era um eevee e de quando ele evoluiu lá em Sinnoh. Ele se espreguiçou no meu colo e eu fiquei fazendo carinho nele, até que ouvi uma voz familiar.

– May?

Olhei para cima e vi ninguém menos que Solidad. Uma colega coordenadora. Muito melhor que eu em técnica, mas se eu me esforçasse amanhã, acho que poderia ter uma chance de vencê-la.

– Solidad! Nossa, quanto tempo. – eu disse, me levantando do banco.

– Muito tempo mesmo. E como vai esse lindo Glaceon? – ela disse, afagando a cabeça dele.

– Ele vai muito bem. Animado como sempre.

– Aposto que vai se sair bem no Festival. Você está hospedada no hotel do Centro Pokémon?

– Não – respondi abaixando a cabeça –  não consegui nenhum quarto.

– Que ótimo! Você pode ficar no meu acampamento!

– Sério? Seria ótimo, Solidad! Se eu não for atrapalhar, é claro.

– Não se preocupe com isso. Você não vai atrapalhar. Vai ser muito bom ter você lá no acampamento.

– Obrigada mesmo! Você não sabe o quanto eu estou agradecida.

– Então vamos logo. Siga-me.

Eu quase não acreditei. Que sorte a minha. Encontrar uma amiga e ela me convidar para passar a noite no acampamento dela. E eu já estava pensando que teria que dormir na rua.

Andamos por uns 5 minutos até chegarmos em uma área de floresta. Mas é claro que o acampamento seria em uma floresta.

Enquanto andávamos, vi várias pessoas acampando por lá. Isso é bem comum, na verdade. Principalmente quando é um evento de grande porte como esse, em que muitas pessoas participam.

– Chegamos. – Ela disse quando paramos em uma clareira com três barracas montadas.

– Tem mais alguém aqui?

– Claro. Mas não se preocupe, tem lugar pra você e eu trouxe uma barraca de reserva. Quer ajuda para montar?

– Não, obrigada. Quais são as outras pessoas?

– O Harley e o Drew.

– Não! O Drew está aqui? – Perguntei com um ar de desaprovação.

– Sim. Qual o problema?

– Todos.

– Ah! Qual é, May. Esqueça daquelas briguinhas que vocês tinham quando crianças. Agora você já é quase adulta. Acredito que já tenha 18, certo?

– 17

– Um ano mais nova que ele, mas vocês dois tem a mesma maturidade, então se esqueça disso.

– Tudo bem...

Mas é claro que o Drew vinha para o Grande Festival; isso não era surpresa para mim, mas eu nunca poderia imaginar que ele ainda estava viajando com o Harley e a Solidad.

Levei uns 30 minutos para montar minha barraca e decidi ficar um pouco lá dentro. Era bem aconchegante. Tive a certeza de que dormiria bem aquela noite.

Enquanto eu estava dentro da barraca, ouvi algumas vozes lá fora. Abri uma frestinha e olhei. Era o Drew e o Harley.

– Menina! – Reconheci a voz do Harley – Nem te conto! Eu vi um boy magia na praia só de sunga! Um arraso!

– Sério? – Solidad perguntou, fingindo estar interessada. – Pediu o número dele?

– Mas é claro que não! Você sabe que eu sou tímido, queridinha!

– Quem se importa com a sua vida, estrupício? Cala essa boca! – Drew interrompeu com sua grosseria de sempre.

– Não precisa ser tão ignorante! – respondeu Solidad.

Depois disso só ouvi os três falarem ao mesmo tempo, até que Drew começou a examinar o local e reparou na barraca extra.

– Solidad, de quem é aquela barraca alí? – Ele perguntou, e eu me escondi na mesma hora.

– Eu esqueci de dizer para vocês que eu encontrei a May aqui na cidade e ela não tinha quarto reservado no hotel, então a chamei para dormir com a gente no acampamento. Pode sair daí, May.

Fechei os olhos por um momento. Talvez para tentar manter a calma. Depois de alguns segundos sem me mexer, finalmente saí da barraca com Glaceon em meu colo.

– Olá – Forcei um sorriso e ele saiu muito estranho. Fiz um aceno para disfarçar, mas isso só piorou.

– Eu não acredito que você chamou isso pro nosso acampamento! – Disse Harley, fazendo pose de ga- er, digo, de modelo.

– Por favor, Harley. Seja mais tolerante. – Interveio Solidad – Espero que você não tenha nenhuma objeção, Drew.

– Eu? Não, não. Tá tranquilo.

– Bom, já que ninguém tem objeções, que tal a gente treinar um pouco?

– Boa ideia. Eu vou com você, amiga – Harley foi o primeiro a se manifestar.

– Ótimo. – Continuou Solidad com um sorrisinho ameaçador no rosto. – Então vocês dois treinam juntos. Vamos, Harley.

Num piscar de olhos eles sumiram. Saíram da nossa vista o mais rápido possível e eu fiquei sozinha com aquele metrossexual.

– Então... – Ele começou. – Em primeiro lugar – estendeu a mão para mim – é bom te ver.

Fiquei parada por um momento, analisando se devia ou não apertar a mão dele,  até que decidi apenas olhá-lo de forma desaprovadora até ele desistir.

Minha estratégia foi bem sucedida.

– Tudo bem então – Ele recolheu a mão, suspirando. – Que tal a gente treinar também? –

Ele tirou uma pokébola do bolso e um Pokémon saiu dela. Era um Arcanine

– Sua vez. – deu um sorrisinho galanteador.

Eu não tive escolha senão lançar um Pokémon também. Escolhi o Wartortle.

– Muito inteligente. Mas não vai ganhar de mim só porque tem vantagem.

– Wartortle, water gun!

Muito lento. Drew nem precisou pedir para o Arcanine desviar; ele já tinha feito isso sozinho.

– Não vai conseguir competir com a velocidade dele. Arcanine, use bite!

Acho que rápido não era o suficiente para descrever a velocidade do Arcanine. Ele era extremamente rápido e conseguiu morder meu Wartortle num piscar de olhos.

– Wartortle, Hydro Pump!

Por que eu fui fazer aquilo? Hydro pump é o ataque mais poderoso de um Pokémon aquático, mas demora uns instantes para carregar, e naquela batalha, cada instante valia ouro.

Nem preciso dizer que Arcanine desviou facilmente.

– Arcanine, bite!

Atingiu em cheio! Eu iria perder. Sem dúvida...

Wartortle estava caído no chão, totalmente exausto.

– Acho melhor a gente parar. – Disse Drew – Acho que seu wartortle não aguenta mais.

– Covarde! – gritei com ele, franzindo a testa.

– Não sou covarde! Olhe só pra ele. Não consegue mais lutar!

Imediatamente vi uma luz vindo do Wartortle. Conforme a luz foi crescendo, entendi perfeitamente o que estava acontecendo. Wartortle estava evoluindo.

Alguns segundos depois lá estava ele, agora um Blastoise.

– O que você estava dizendo? – Perguntei com uma expressão vitoriosa no rosto.

– Agora dá pra continuar! Arcanine, outrage!

Agora ele foi longe de mais. Outrage é um ataque poderosíssimo. Ele estava em vantagem! Por que decidiu apelar tanto assim?

– Blastoise, Rock slide.

Felizmente, o rock slide conseguiu conter o outrage do Arcanine. Ele foi atingido em cheio e ficou desnorteado por alguns segundos.

– Rock slide novamente, Blastoise! – Aproveitei esses segundos para acabar de vez com ele.

Arcanine foi atingido em cheio novamente. Ele já estava cambaleando.

– Arcanine! Mantenha o foco! Use bite!

Antes de Drew terminar de falar, Arcanine caiu no chão, nocauteado.

– Ganhei! – Comecei a saltitar de alegria junto com meu Blastoise.

– Hunf! Só ganhou porque o Blastoise evoluiu, mas...

– Deixe de ser um mau perdedor!

– Não estou sendo um mau perdedor. Só estou falando a verdade. Ou você acha que teria ganhado se o Blastoise não tivesse evoluído?

Me calei. Eu realmente não teria nenhuma chance, mas resolvi ignorá-lo do que concordar.

– Isso foi apenas um treino. Eu não vou te dar mole no Grande Festival. O título de Top Coordenador vai ser meu este ano!

Que ele achasse o que quisesse. Eu também não iria dar mole pra ninguém. Faria qualquer coisa pelo meu título.

Olhei para o céu e percebi que estava escurecendo. Nessa mesma hora, Harley e Solidad chegaram no acampamento.

– Treinaram? – Solidad perguntou para mim.

– Sim, e eu ganhei.

– Por sorte – Interrompeu Drew.

– Já disse pra você deixar de ser um mau perdedor!

– E eu já disse que não sou um mau perdedor. É você que tem sorte de mais.

– Cala a sua boca! Por que você não vai tomar...

– Parem de brigar! – Solidad me interrompeu – Já chega disso! Não vamos semear discórdia por aqui.

Olhamos de cara feia um para o outro. Por que ele tinha quer ser tão chato? Eu ganhei e pronto. E daí se o meu Wartortle evoluiu no meio da batalha? Isso acontece até em torneios e não há nada que diga que é contra as regras.

– Já está escurecendo, pessoal – Solidad olhou para o céu. – Que tal a gente fazer uma fogueira e comer uns marshmallows e umas salsichas?

– Ótima ideia, amiga – Harley disse enquanto penteava seus cabelos roxos horrorosos.

– Drew, você poderia pegar alguns gravetos para a fogueira.

– Por mim tudo bem.

– E May, vai lá na cidade comprar as comidas.

– Tudo bem. – Concordei

– É pra voltar com a comida toda aqui! Nem pense em comer durante o caminho – Harley disse com sua pose de ga- er... modelo.

– Fica tranquilo, viado.

Sim, eu disse aquilo mesmo. Percebi o olhar desaprovador de Solidad e Harley estava prestes a voar em cima de mim; já o Drew, estava rindo muito.

– Andrew! – Solidad chamou a atenção dele. Aquela era a primeira vez que eu ouvia alguém chamar o Drew pelo nome, e não pelo apelido – Isso não tem a menor graça!

– Eu tenho 18 anos! Não preciso que ninguém fique me chamando a atenção. E eu tenho certeza que você também estava rindo por dentro. E outra: você não devia estar brigando com a May? Foi ela qume fez a piada.

Maldito.

– May, peça desculpas!

A Solidad estava se achando a rainha da cocada preta só porque era a mais velha, mas eu não tive escolha...

– Desculpa – disse de má vontade.

– Ótimo. – continuou Solidad. – Agora Drew, vá procurar lenha para a fogueira e May, vá comprar as comidas.

Virei as costas e fui me afastando do acampamento. Seria uma longa caminhada até a cidade, mas eu estava morrendo de fome, então não hesitei em andar o mais rápido possível.

O Grande Festival aconteceria amanhã e eu me sentia pronta, mas não poderia imaginar as surpresas que eu teria que enfrentar no grande dia...