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Acolhida pela árvore centenária, a garotinha esperava. Com seus olhos âmbares, fitava o mar lá embaixo. Suas ondas cantavam uma música suave como uma cantiga de dormir para as crianças inquietas. E a menina se inquietava. Abraçava as pernas, escondia o queixo entre os joelhos, chorava baixinho sua solidão.

Ela só queria brincar com seu primo. Só queria se divertir um pouco com aquele garoto moleque que nunca lhe dava atenção. Mas ele não atendia a seus chamados, e ela acreditava que nunca via mais do que as suas costas. Por mais que ela gritasse e chorasse, ele nunca olhava para trás. E a menina se sentia traída.

Por isso ela buscava o aconchego das árvores, tocas e cavernas. Queria ter um momento para si, um segundo eterno em que pudesse colocar seus sentimentos em ordem. Até que o manto da noite cobria a ilha, e a garotinha se dava conta de que não sabia como voltar para casa. E ela chorava ainda mais, até que todas as suas lágrimas descessem por seu rosto.

Naquela noite estrelada, ela fitava o mar, buscando na canção dele a coragem de que precisava para encarar sua solidão. Sentia frio, sentia medo. Queria mover seus braços e pernas, mas uma força superior a obrigava a ficar encolhida. Ela respirou fundo, acompanhando o compasso da música espumante. Acalmou-se aos poucos, mas ainda se sentia só. Com um suspiro, piscou serenamente.

A paisagem mudara. Diante de seus olhos âmbares, havia uma mão um pouco maior do que a sua. Ela era adornada por duas pulseiras simples que a menina conhecia muito bem. O medo deu lugar a um sorriso. Ela ergueu o rosto e encontrou olhos tão âmbares quanto os seus. Um novo sentimento guiou-a enquanto ela estendia a mão para que ele a segurasse e retirasse daquela toca sombria e escura. O sentimento era a felicidade.