Estou com a Jóia de Quatro Almas nas mãos finalmente. A pergunta que vem a minha mente é: E agora? O que fazer?

Posso ser um youkai completo como sempre desejei. Também posso ser humano. Nesse momento recordo-me de minha infância. Minha mãe e eu vivendo naquela aldeia. Como ela sofreu, como foi discriminada por dar a luz um a meio youkai. E quando eu me aproximava das outras crianças, as que não corriam assustadas eram retiradas de perto de mim por seus pais aflitos. O que eles pensavam? Que eu os devoraria? Os assustaria? Eu nunca entendi os seres humanos até conhecer Kikyou.

Essa mulher podia ter me matado nas inúmeras vezes que teve oportunidade. O que eu era pra ela? Uma criatura perigosa, que invadia uma aldeia repleta de inocentes na tentativa de obter a jóia. Eu era uma ameaça as pessoas que lá viviam. Então porque ela não me matava?

Nunca antes um humano deixou com que eu me aproximasse, nunca nenhum foi gentil comigo, mas aquela humana...

Belíssima, forte, sem medos. Um misto de menina e mulher. Ela podia estar junto as outras jovens de sua aldeia cuidando de sua casa, ter um namorado, estar a toa por aí, mas não. Ela pegou para si a obrigação de cuidar da jóia, de impedir que youkais ou pessoas mal intencionadas a roubassem e ela derrotaria qualquer um que tentasse. Seus dons, sua força eram algo superior a tudo que vi num ser humano.

Eu me apaixonei por ela. Uma mulher humana. E eu, um meio youkai enraivecido, que nunca gostou de humanos, com exceção da minha mãe. Apaixonado por uma mulher comum. Mas ela não era comum.

Ao lado dela eu era outro. Não tinha mais aquela agressividade latente, nem aquele desprezo pelas coisas que me cercavam. Ela despertou em mim um lado totalmente desconhecido.

Então nosso mundo ruiu. Fomos traídos, iludidos, separados por um destino cruel e sombrio e após muitas desventuras ela renascida veio até mim, me entregou a jóia e se afastou.

Não pude falar nada. Mais uma vez a pessoa que amo se afasta de mim. Todos que amo me abandonam de um jeito ou de outro. Peguei a jóia e fui para as margens daquele mesmo rio onde cinqüenta anos atrás nós dois nos descobrimos apaixonados. Olho pra jóia e não sei ao certo o que fazer. Quis ter a força e o poder de um youkai completo para jamais temer outras criaturas, quis ser um humano para ficar ao lado dela e agora não sei mais nada.

Está anoitecendo. Caminho de volta a pequena caverna onde passo minhas noites desde que Kagome partiu. É um local extremamente quente, talvez pela proximidade de um vulcão. Nem sei porque escolhi esse lugar para viver. Acho que quis me afastar de todos vivendo num local de difícil acesso e mesmo assim ela me achou, veio até mim trazendo o que eu sempre quis e agora eu vejo que nunca quis nada disso. Nem o poder de um youkai, nem a humanidade para ser aceito por ela. Eu quero continuar sendo eu.

Em instantes estou no alto do vulcão. Ele está quase extinto, mas ainda é bastante perigoso. Olho pela última vez a jóia que tanto mal causou a minha vida e de tanta gente e a lanço em direção as brasas incandescentes lá embaixo.

Agora estou livre. Livre para ser o que sempre fui. Livre para amar Kikyou. Livre para ser Inuyasha.

Fim

Notas: A idéia desse POV do Inu veio de um papo no MSN com a Madam Spooky sobre como o Inuyasha deveria ser. Hanyou ou humano. Ela prefere ele hanyou e eu humano. Mas achei que pelo menos um pequeno fic em que ele não negasse suas origens eu poderia fazer.