A maioria das pessoas pensa que sou um completo idiota, não tenho sentimentos e sou um bronco estúpido. Elas se ligam apenas na aparência fÃsica. Nesse mundo quem não é belo e perfeito praticamente não tem as mesmas chances de sucesso e popularidade. Será que as pessoas que nos julgam são perfeitos?
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Eu pensava assim quando Yukina me deixou.
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Após tem convivido com ela quase diariamente, finalmente tomei coragem de declarar meus sentimentos. Ela pareceu confusa e me pediu um tempo. Dois meses depois ainda não dizia nada e até me evitava. Mais algumas semanas se passaram e finalmente eu tive coragem de confrontá-la.
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Ela olhou bem fundo nos meus olhos e disse que eu era muito bonzinho, me amava como um irmão e voltou para o paÃs do gelo.
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Pensei comigo mesmo. Se eu fosse como o Kurama ou o Yusuke será que ela teria me deixado? Afinal a maioria das garotas só valorizam caras bonitões. Sujeitos como eu devem ser jogados de lado e ignorados. No máximo ser um ombro amigo.
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Então minha vida deu uma reviravolta mais uma vez. Estava passando em frente a lanchonete onde costumava levar Yukina antes dela partir e a vi numa mesa isolada de todas. Keiko estava de cabeça baixa e parecia chorar. Me aproximei preocupado, será que alguém a maltratara? Pedi licença para sentar ao lado dela. Keiko levantou o rosto coberto de lágrimas e assentiu com a cabeça.
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Eu não sabia o que falar. Não queria me meter em sua vida. Esperei que ela se acalmasse, mas ela parecia não conseguir parar de chorar. Fui ao balcão e pedi um copo de água, talvez ela se acalmasse um pouco.
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Ela bebeu a água, me agradeceu e foi embora. Fiquei sem reação por alguns instantes, mas em seguida fui atrás dela alcançando-a na praça que ficava do outro lado da rua. Levei-a para um dos bancos e disse que não a deixaria em paz até que ela me contasse o que acontecera.
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Ela respirou fundo, enxugou as lágrimas e contou que Yusuke a dispensara. As coisas estavam estranhas entre eles a algum tempo. Viviam afastados um do outro e eu praticamente não os via juntos. Ele foi pela manhã em sua casa, falou que amava outra pessoa e não poderia se enganar mais nem enganá-la.
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Keiko me falou que ouviu tudo atentamente e controlou sua raiva e tristeza. E quando ele partiu, ela não fez outra coisa além de chorar.
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Apesar de estranhar a atitude de Urameshi, estranhei ainda mais a atitude madura dela. Quando ele olhava de lado ela fazia um escarcéu, até batia nele. Talvez isso tenha sido uma das causas do afastamento e desinteresse dele. Falei isso tudo esperando uma bolsada na cabeça ou um chute, mas ela me escutou com atenção. Depois pegou minha mão, a beijou, agradeceu e disse que eu melhorara o seu dia. Levantou-se e foi embora, aparentemente mais tranqüila.
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Os dias se passaram e eu controlei a vontade de reencontrá-la e saber como ela estava. Se tinha superado ou se pelo menos tentara. Yusuke levou Botan, sim a Botan, quem diria? Ele a levou para uma viagem a uma cidade do litoral e essa viagem foi presente da Genkai. Todo mundo estava sabendo de tudo menos a Keiko, seria possÃvel? Acho que não. Eles não seriam capazes de cometer um ato tão baixo. Entendi o que se passou com ambos.
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Minha memória recordou as inúmeras vezes que vi os olhares furtivos que eles trocavam. Uma vez fiz uma piadinha, dizendo que eles parassem de namorar por telepatia e ambos ficaram vermelhos. Compreendi que Yusuke não agiu errado com Keiko, ele não teve culpa de amar outra mulher. Espero que Keiko tenha entendido isso.
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Uma semana passou e ainda não tive notÃcias da Keiko. Olho pro telefone, pro relógio e nada. Dessa vez vou até a casa dela, não dá pra esperar mais. Me pergunto porque tanta preocupação. Não tenho porque me envolver num problema desse. Ela é uma boa menina, boa amiga, mas é só isso. Ou será que não?
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Relembro quando a via na escola sempre correndo atrás de Yusuke enquanto eu observava de longe, querendo socá-lo por ignorar aquela garota tão maravilhosa. Se ela dedicasse a mim um milésimo daquela atenção eu seria o sujeito mais feliz do mundo.
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Chego a casa de Keiko, logo ela abre a porta. Tem olheiras ocasionadas pelas noites mal dormidas. Acho que ela não vai nada bem. Me convida para entrar e senta-se ao meu lado, oferecendo algo para comer ou beber, o que prontamente recuso.
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Após alguns minutos de um silêncio incômodo ela começa a falar. Diz que pensou demais em todos os acontecimentos de sua vida e em todos eles Yusuke esteve ligado de um jeito ou de outro. O rompimento entre eles e minhas palavras, segundo ela, fizeram-na enxergar dentro de si e perceber que se anulara todos esses anos em benefÃcio dele e foi melhor que tudo tivesse um fim. Percebera agora o afeto e carinho que ele sentia por ela era bem diferente do que sentia por Botan. Ele não contara quem era a pessoa que amava, ela os avistou juntos e felizes passeando num parque, algo que nunca acontecera com ela antes. Viu nos olhos deles como estavam felizes e viver se lamentando só destruiria sua sanidade e sua vida. Nem sentia mais raiva, só uma leve melancolia.
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Senti-me aliviado com essas palavras e para não incomodá-la mais pedi licença e já estava indo embora quando ela me chamou. Chegou bem perto de mim e falou que eu era uma pessoa linda. Linda de todas as maneiras. E que se eu quisesse poderÃamos sair juntos e conversarmos mais.
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Olhei para ela, lembrando que nossas vidas foram bem semelhantes nesse ponto. Passamos boa parte de nossas vidas amando quem não nos amava e agora tÃnhamos uma chance de descobrir se haveria uma oportunidade para nós.
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Tive medo que ela me batesse, mas não pude resistir e a beijei. Um beijo tÃmido e breve. Ela ficou surpresa, mas correspondeu. Ao nos separarmos ela me abraçou e seguiu para o quarto, não sem antes me pedir para aguardar cinco minutos enquanto se aprontava.
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Sentei-me novamente e aguardei sua volta. Quase meia hora depois ela apareceu. As olheiras tinham diminuÃdo consideravelmente. Não sei se por maquiagem ou outra coisa. Sei que ela estava linda. Keiko se aproximou, pegou na minha mão e saÃmos juntos.
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Enquanto passeio pelas ruas de mãos dadas com ela, penso que as pessoas não são todas iguais. Nem todas julgam pela aparência ou tiram conclusões precipitadas com a primeira impressão. Ela sempre me respeitou, sempre me tratou bem. E eu a amo por isso.
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Fim
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Nota: Bem, isso aà é a resposta ao desafio da Elfa, no fórum Mentes Insanas, sobre um fic com o Kuwabara. É injusto que ele sendo um personagem tão maravilhoso, simpático e o humano mais poderoso da série seja vitima de discriminação por quem acha que aparência é tudo, só gostam dos bonitinhos apenas por serem bonitos e só escrevem sobre ele fazendo papel de imbecil, coisa que ele não é!
Ah, eu odeio a Keiko, mas acho que ela e o Kuwabara fazem um casal legal, pelo menos ela não é morta como a Yukina e assim o Yusuke pega a Botan... e o Kurama. Cala-te boca...