Capítulo 1: Entre rato e gato
- Eu acabo com você! berrou Kyo, derrubando a porta da sala com chute.
- Nem em sonho! respondeu Yuki, estendendo uma bandeja para impedir que Kyo o chutasse.
- Seu rato idiota! Pára de se esconder atrás dessa bandeja!
- Não estou me escondendo. disse o outro.
Yuki ficou de pé e deu um soco em Kyo que o fez parar no meio do corredor. Tohru, que passava lá naquele momento, berrou de susto.
- Senhor Kyo?! perguntou, jogando um cesto no chão - Está tudo bem?
- Eu tô com cara de quem tá...? Ah... Er... Sim, eu tô bem.
Kyo sentou-se no chão do corredor e olhou a sala. Novamente tinha perdido para o rato. Sentia-se humilhado.
- Senhor Kyo... chamou Tohru, agachando-se ao lado do gato teimoso Não acha melhor...
- Tá tudo bem! Eu vou dar uma volta.
- Ponha a coleira, gato vira-lata. disse Yuki.
- Ora, seu...
Kyo saiu de casa irritado. Shigure apareceu no corredor alguns segundos depois, rindo. Trazia um livro debaixo do braço.
- Ah! Esses dois! Devia fazer um livro sobre eles!
- Senhor Shigure! exclamou Tohru Achei que estivesse dormindo!
- Estava lendo uma revista de moda. Tem umas fotos de garotas bem bonitinhas. Você bem que podia vestir uma fantasia de coelhinha e...
- Não-ter-mi-ne-es-as-fra-se! bradou Yuki.
- Puxa, Yuki! Não me olhe assim! Até parece um fantasma...
- Vá embora, Shigure! disse Yuki, em um tom ameaçador Sua simples presença é uma ameaça para a pureza da senhorita Honda.
Shigure abriu um sorriso e sumiu dali o mais rápido que pôde. Tohru ficou parada no corredor, tentando entender o que o amigo queria dizer com aquilo.
- Senhorita Honda?
- Unn? O quê? Sim? ela perguntou, voltando à realidade.
- É que... Eu estive pensando, sabe... As provas acabaram e nós vamos ter uma semana de folga... Bem, o que eu quero dizer é que... A gente podia... Sabe? Sair juntos...
- Sério?! perguntou a garota, com os olhos faiscando Isso seria muito divertido! Podíamos assistir o novo filme do Mogeta!
- Er... Bem...
- Eu adoraria sair com você, senhor Yuki! Agora, se me dá licença, vou colocar essas roupas para lavar.
Dizendo isso, Tohru pegou o cesto de roupa suja que quase tinha esquecido com a briga no corredor. Foi para a cozinha e colocou as peças na máquina.
- Bem... Não há mais nada para fazer... Será que o Kyo quer um lanche? Ele não jantou direito...
Tohru vasculhou os armários da cozinha à procura de ingredientes. Acabou optando por fazer bolinhos de arroz.
- Onigiri é o bolinho de arroz. É tão bom no lanchinho, não o deixemos para depois... Acompanhado com panquecas fica tão bom assim! Onigiri: o melhor lanche para mim!
Quando ela abriu a porta que dava para a floresta, sentiu a brisa fria tocar seu corpo. Tremeu e por pouco não deixou os bolinhos caírem.
- Iá! berrou.
- Quem está aí? perguntou a voz de Kyo, que estava em cima do telhado.
- Sou eu!
- Ah... É você, Tohru?
O garoto apareceu alguns segundos depois e ajudou a amiga a subir o telhado. Os dois ficaram sentados sobre as telhas durante um longo tempo, apreciando as estrelas e comendo os bolinhos.
- Kyo... Por que você e o Yuki brigaram?
- Porque... Porque... Ele leu o meu diário...
- Você tem um diário?! ela perguntou surpresa.
- Caderno! Caderno! Eu disse caderno! É um caderno de anotações... Eu escrevo coisas importantes que não quero esquecer... Não fico nesse nhém-nhém-nhém de querido diário!
- Bom... Se você diz... Mas você pegou o Yuki lendo seu diá... Digo, caderno?
- Bem... Não exatamente. Mas ele mencionou uma coisa que não tinha como saber, a menos que tivesse lido meu caderno.
- Que estranho! Isso não faz o feitio do Yuki.
- É... Acredite! Ele leu meu caderno! Invadiu minha privacidade! Por isso eu bati nele!
- Hihi. Você bateu ou apanhou?
- Ora, sua...!
Kyo fingiu dar um soco nela enquanto ela ria. Tohru fingiu revidar o golpe e o garoto deitou no telhado, como se tivesse sido nocauteado.
- Prendam essa garota! Essa cruel! disse.
Os dois continuaram rindo durante um bom tempo. Nenhum dos dois percebeu uma sombra mexendo-se no quintal.
Yuki olhava o céu estrelado com tristeza enquanto ouvia a brincadeira dos outros dois. Suspirou, entrou em casa e fechou a porta.