A psicóloga de Miroku
Â
           Estava distraÃda, sentada em minha cadeira de rodinhas e pensando na novela das nove, quando ele entrou. Era um garoto alto com cabelos negros e rabo de cavalo.
           - Olá! – ele disse, saltando para o div㠖 Gostaria de ter um filho meu?
           - Não, obrigada. Já tenho doze gatos lá em casa.
           - Ah... – disse o garoto – Bem... Meu nome é Miroku.
           - Mesmo? Prazer... Miroku... – tive de conter o riso – Parece nome de Pokemon...
           - Ei! Olha o respeito! E o que é “pokemon”?
           - É um... Youkai domesticável.
           - Sério? Então a Kirara é um pokemon? – ele fez uma pose pensativa – Aliás, qual é o seu nome, hein?
           - Mimika chan! – abri um sorriso.
           - Mimika chan? Parece nome de gato! Hahaha!
           - Hunf! Idiota. Bem... Não importa. – disse – Então... O que te trouxe aqui?
           - Minhas pernas.
           - Não diga. Achei que tivesse vindo em um felino voador.
           - Não! – ele balançou a mão – Quem voa em um felino voador é a Sango.
           - E... Quem é Sango?
           - É uma exterminadora de youkais!
           - E ela é o que sua? – perguntei com interesse.
           - Nada...
           - Nadinha? – perguntei, decepcionada.
           - Nadinha! – ele abriu um sorriso.
           - Noiva? Amiga? Namorada?
           - Não! Companheira de equipe!
           - Qual é o seu problema?! – berrei. Afinal, se essa tal de Sango não era nada dele e ele estava no meu consultório, só poderia estar querendo que ela se tornasse algo dele.
           - É minha mão! – ele ficou de pé no divã - Minha famÃlia é amaldiçoada e eu tenho um buraco negro na mão direita!
           Ele olhou para mim, esperando. Percebi que queria que eu dissesse alguma coisa. Comecei a brincar com a prancheta.
           - E o que isso tem de ruim? Nunca vai ter de gastar energia com aspirador de pó.
           Ele levantou a mão enfaixada para protestar. Depois pensou melhor e a abaixou.
           - O que é um aspirador de pó?
           - Bom... É...
           - Miroku! – disse uma terceira voz, vinda do corredor – Eu sei que está aÃ!
           Olhei de esguelha para o garoto. Ele tremia da cabeça aos pés. Com um salto, atirou-se aos meus pés, escondendo-se atrás de minha mesa.
           - Miroku! – a porta se abriu com força e uma garota de longos cabelos negros entrou na sala – Eu sei que está aÃ!
           - Olá! – eu disse – Sua consulta deverá ser daqui a...
           - Que se danem os horários! – ela berrou – Onde está aquele monge estúpido vestido de preto e azul e com cara de “onde está Wolly”?
           - Bom... Ele...
           Olhei para baixo discretamente. Miroku estremeceu de novo e ficou de pé, acenando meigamente para Sango.
           - Sango! Minha querida Sango!
           - Querida? – zombei – Minutos atrás, tinha dito que essa tal de Sango não significa nada para você.
           - O que?! – a garota explodiu – Eu vim até aqui de salto alto, estou com os pés doendo e você ainda me diz isso! Miroku, seu grande...
           - Ei! Nada de violência no meu consultório!
           - É! – disse o monge.
           - Leve-o para a calçada, se quiser bater nele.
           - É! Ei. O que?!
           - Ah, mas como eu vou bater nele... – murmurou Sango, parecendo incrivelmente “mongicida”.
           - Ei! Ei! – Miroku recuou – Não pode me bater! Eu sou um coitado! Minha mão é amaldiçoada! Explica pra ela, Mimika chan!
           - Ah, Miroku! – Sango riu – Sua mão é amaldiçoada! É mesmo! Ela é incapaz de ficar um dia inteiro sem tocar no corpo de uma garota!
           - Mentira! – ele berrou, erguendo a mão esquerda.
           - Miroku... Aonde você pensa que sua “mão amaldiçoada” está indo? – eu perguntei.
           - A lugar algum. – ele disse, tirando a mão de meu ombro e se afastando de mim.
           Ele abriu um sorriso amarelo e depois olhou para Sango. Então abriu os braços e deu dois passos em direção a garota.
           - Sango! Sango! Você sabe que eu te amo!
           - Sim... Sei... – o tom dela era sarcástico.
           - É sério! – ele tocou seus ombros – Você é a melhor.
           Sango abriu um sorriso a contragosto e balançou a cabeça. Tinha perdoado o monge. Ah! Às vezes eu faço milagres!
           - Até mais! – disse, dando tchauzinho para o casal.
           - Tchau! – disse Sango.
           - Ei, Mimika! Cinema na sexta, valeu? – disse o monge.
           “Ai, estragou tudo, idiota.”
           Antes que eu pudesse me levantar, Sango agarrou Miroku e o atirou pela janela. O vidro se quebrou e caiu no carpete escuro.
           - Vou descer. – disse a exterminadora, caminhando até a porta – Preciso ser rápida ou ele vai conseguir se levantar e fugir... Â