Olá, eu sou Miwaku. Miwaku Hayate. Eu moro numa casa velha com minha irmã menor, Wasabi Hayate. Meus pais vivem viajando a negócios, então eu os vejo no máximo três vezes ao ano.

Eles me disseram pra eu tomar conta da casa. Eu cuido bem dela, eu limpo, faço manutenção e tudo mais, mas, bem... Eu me arrependo até hoje de ter entrado no sótão. Era a noite de 31 de outubro, conhecida aqui na minha cidade como "a noite dos cem demônios". As crianças se vestem de diabinhos, fantasmas e afins e vão pedir doces ou dinheiro. É como o Halloween, mas é algo tradicional da cidade. Eu, desde pequeno, não participei disso, pois eu sou muito cético. Sou não, ERA.

Enfim, melhor deixar que essa história conte pra vocês com melhores detalhes.

Caso você não acredite em bruxas e afins, pare aqui. É meu último aviso. Caso você ainda assim não acredite, e queira começar a crer, tenha uma ótima leitura.

MAGIC GIRL MAGI

Essa é a velha cidade de Aoho. Foi fundada em 1874, e se manteve praticamente, igual, mudando apenas o centro urbano, lotado de lojas. Eu, infelizmente vivo na periferia. Estudo na escola pública Aoho-Kan, desde que eu era um bebê. Vejam, aquele sou eu. O garoto de cabelo preto arrepiado e mal-encarado, carregando a mochila preta. Eu não sou um punk, eu só não sou... sociável. Aquela ali atrás é a minha irmã citada anteriormente, a Wasabi. A meninha de cabelo preto amarrado em suas maria-chiquinhas, usando a camiseta rosa por baixo do macacão jeans. Ah, sim, eu tenho 16 anos, e estou no segundo ano do colegial, e Wasabi tem 11 anos, e está na quinta série.

-Miwaku nii-chan! Me espera!-disse Wasabi, apressada.

-Ok... Mas vamos, senão vamos perder o ônibus pra casa!

Minha irmã caçula me alcançou, e nós pegamos o ônibus. Como todos os ônibus de Aoho, esse também tinha sérios problemas de manutenção. A porta estava abrindo até a metade, ele fazia um barulho estranho e às vezes, um forte cheiro de díesel subia. Enfim, após toda a tremedeira rotineira dos ônibus maravilhosos de Aoho, chegamos em casa. Uma grande casa velha. Eu cuidava bem dela, até, mas não ousava entrar no sótão. Não sei, algo me impedia de ir até lá.

-Miwaku nii-chan, o que vamos ter de janta?

Acho que esqueci de dizer... Nós estudamos no período da tarde, pois de manhã eu faço um trabalho de meio-período no mercado perto de casa, o DokiDoki. É um nome bem estranho. Enfim, eu preparei o de sempre... Miojo. Era o que eu tinha pra fazer, antes de receber meu salário. Meus pais não se interessam em nos enviar dinheiro, nem que seja uma vez a cada quatro meses, então eu trabalho duro pra manter a casa e a Wasabi.

-Está pronto, vamos comer, disse eu. E depois eu vou te ajudar com a sua lição de casa.

Wasabi me abraçou, apertando minhas bochechas, como sempre fazia. Enquanto comíamos, ela ouviu algo estranho, e ficou assustada. É normal uma criança de 11 anos ter medo de um barulho estranho durante a noite.

-Miwaku nii-chan, disse ela, assustada. Vai ver o que foi isso!

-Ok, eu vou ver.

Eu me levantei logo em seguida, e fui procurar o barulho. Eu olhei pela janela da cozinha, e vi várias crianças vestidas de bruxas, fantasmas e demônios. Elas não vinham aqui, pois sabiam que eu não lhes daria nada. Mas o barulho não vinha de fora, nem do andar térreo. Vinha do sótão. O maldito sótão que eu não ouso nem chegar perto.

-Nii-chan, Wasabi gritou da cozinha, ainda com medo. Achou o barulho?

-Já sei de onde ele vem. Vou subir lá.

Eu não tinha com o que subir, podia ser um ladrão, até. Então, eu peguei a primeira coisa que eu vi: O guarda-chuva da Wasabi. E lá fui eu, parecia o mais poderoso dos cavaleiros de livros, carregando sua espada. Eu girei a maçaneta com cuidado, ouvindo um estalo provindo das peças velhas das trancas. Eu empurrei lentamente, tomando o maior cuidado possível para não ser pego pela pessoa que estava lá. As dobradiças rangeram sinistramente, me dando um arrepio pela espinha. Eu entrei, e a porta se fechou atrás de mim. Era o que eu menos queria, ficar trancado nela droga de sótão bem no dia que as pessoas chamam de "a noite dos cem demônios". Ótimo, eu pensei.

-Mas o que diabos é aquilo?

Eu olhei para o centro do sótão. Havia bicicletas velhas, uma televisão com a caixa de madeira, e até um esqueleto, desses de laboratórios de escola. Mas o que era mais intrigante era o baú imenso no centro da sala. Um grande baú marrom,-quase cinza, de tanta poeira- com as bordas douradas, e trancado por um imenso cadeado dourado, cravejado com um rubi gigantesco na frente da fechadura. Aquele rubi daria para eu sustentar a casa por quase dois anos, pensei. O rubi tremeluzia levemente com a luz da lua cheia. Quando eu ia tocar no cadeado de ouro, o baú pulou. Sim, ele pulou para trás e para frente, enquanto eu caí sentado. Assustado, eu desci uma cacetada no cadeado, num reflexo que parecia não ter sido comandado pelo meu cérebro. Eu ouvi um som de vidro se quebrando, e quase chorei ao ver o rubi despedaçado. Espere, eu não tenho força pra quebrar um rubi com um guarda-chuva de criança. Era vidro, eu pensei melancolicamente, mas logo minha atenção foi desviada pra algo ainda mais bizarro. O baú se abriu, e uma forte fumaça roxa, que eu juro que tinha pequenas estrelinhas amarelas voando em torno dela, saiu lá de dentro, e logo em seguida, algo que parou meu coração.

Uma pessoa emergiu de dentro do baú. Especificando melhor, uma garota. Uma garota... Nua.

-Ahhh... Quanto tempo eu dormi?-Disse a garota.

Eu não consegui responder. Estava pálido, talvez todo o meu sangue tivesse se esvaido pelas narinas. Ela, num movimento rápido, se inclinou na minha direção. Eu abri o guarda-chuva como se fosse uma arma. Ela foi atingida pelas orelhas de gato do guarda-chuva, e deu uma risada de escárnio.

-Q-Q-Quem é você?! -Eu só pude dizer isso. Nada mais estava na minha cabeça além do fato de que uma garota sem roupa havia brotado de um baú no sótão da minha casa.

-Ah, eu?-Ela apontou para si mesma.-Eu sou Magi. Magi Magitan. Sou sua bruxa particular, então seja bonzinho comigo.

Aquilo soou como aqueles filmes pornôs do tipo "a primeira vez de fulana", onde ela sempre pede para o homem ser bonzinho com ela.

Eu já ia dizer "bruxas, meh, eu faço bruxas no almoço", mas ela transformou o guarda-chuva de Wasabi num gato de verdade, e eu estava o segurando pela cauda. O bichano saltou sobre minha cabeça, e saiu correndo pela janela. Wasabi não ia gostar disso. Não do fato de ter um gato, mas do fato do guarda-chuva dela ter sumido.

-O que houve?-Ela me perguntou tentando descobrir o que se passava na minha cabeça.- Nunca viu uma bruxa antes?

-E...Eu não acredito nisso.

Ela arregalou os olhos pra mim. Naquele mesmo instante, eu a vi se transformar em pedra, e literalmente, desmoronar sobre mim. Ela se recompôs dentro do baú, novamente. Ela me pegou pelos ombros e me chacoalhou frenéticamente.

-Como você não pode acreditar em bruxas?! Como?!

Eu não sabia o que pensar mais. Primeiro, uma bruxa aparece, faz uma mágica na minha frente, e agora eu digo que não acredito nisso. Ou eu estava sendo enganado, ou o miojo estava vencido.

-Vamos, eu quero ver o seu mundo!

Ela saiu do baú, sem roupa alguma, e abriu a porta de longe, com um movimento da mão. Eu não podia deixar Wasabi ver uma garota pelada descer as escadas e dizer que era só minha. Eu me levantei e corri atrás dela.

~~CONTINUA