- PRECISO DE ALGUÉM RÁPIDO PARA FAZER ESSE SERVIÇO!!! Enma Daioh esbravejou, em meio a milhões e milhões de almas para registrar.
Eram muitas e muitas almas que chegavam ao castelo sem parar, todas vindas da Terra. Majin Boo chacinava a todos do planeta, sem piedade alguma. E, para deter aquele monstro, quem estava lá para enfrentá-lo estava em grandes apuros. Boo era uma ameaça grave para o universo, e isso fez com que Enma tomasse medidas drásticas. Viu ali três empregados um baixinho, um gordinho e um magrelo e perguntou:
- Qual de vocês é veloz o suficiente para desempenhar o que eu quero?
- Bem, eu acho que nós três somos bastante rápidos. disse o magrelo. Qual é a tarefa?
- Quero que um de vocês encontre a alma do sujeito deste currículo.
Enma deu ao trio o currículo a que se referia. O tal currículo, na verdade, parecia mais um caderno de vinte matérias. Ao lê-lo todo se via, nos três rostos, expressões de perplexidade e medo.
- Ô chefe, ele é um dos condenados! protestou o baixinho. Por que quer que encontremos a alma desse cara? O Grande Senhor Kaioh não vai gostar nada disso!
- Não se preocupe, eu já conversei com o Grande Senhor Kaioh a respeito dele.
- Essa ficha é muito grave! disse o gordinho. Dificilmente dá para trazer a alma dele para cá...
Enma percebeu que nenhum dos três queria se aventurar a buscar a alma do tal condenado. Usou uma estratégia:
- Dê um passo à frente aquele que se dispuser a fazer essa tarefa!
O gordinho e o outro deram um passo para trás. Só o baixinho ficou à frente. Ô vida ingrata! Sobrou pra mim!, pensou.
- Vá depressa! Você vai encontrá-lo lá no setor dos condenados! E vocês dois disse aos outros vão reconstruir o corpo dele!
- O quê?! eles disseram, em coro.
- É isso mesmo! Quero que reconstruam o corpo do jeito que era em vida... E exatamente igual às especificações daqui. Enma disse, e entregou mais um caderno para eles. E você, ande logo! Não temos muito tempo! disse ao baixinho.
Não deu nem tempo de rir dos dois companheiros. Teve que ir logo à busca da alma do tal condenado, a toda velocidade. E o currículo do sujeito não era dos melhores. Na verdade, dava-lhe arrepios só de lembrar o que tinha lido. Mas, já que o chefe tinha falado com o Grande Senhor Kaioh, paciência...
Entrou voando literalmente num corredor sombrio e não conseguiu parar. Só conseguiu parar quando foi atingido e torrado por um raio e, para completar, caiu de cara no chão. Ao levantar, viu uma enorme fila de sujeitos mal-encarados de todo tipo. Uns, humanoides, outros, nem tanto. Outros, ainda, eram verdadeiras aberrações alienígenas. Ih, ferrou! Ele tá no meio desses aí?!, pensou.
Um dos guardas parecendo mais um centurião romano aproximou-se dele:
- Procura por alguém?
- Sim. o funcionário respondeu. Eu procuro um condenado por destruição de planetas, extinção de povos inteiros, assassinatos e traição! Ah... acrescentou irônico. procuro também o imbecil que me torrou com um raio na hora que cheguei aqui. Ele me pegou num dia muito estressante...
- Olha disse o guarda. Só os condenados por todos esses crimes aí que você disse estão nessa fila que estamos vendo. apontou. Não dá pra ser mais específico?
O rapaz olhou pro filão e se desanimou. Como acharia o cara, se nunca o tinha visto? E como poderia ser mais específico?
- Como assim? ele perguntou.
- Bem... O planeta de onde veio, a raça a que pertencia... E, principalmente, o nome dele...
- Mas que droga! Que cabeça a minha! deu um tapa na própria testa. Por que eu não pensei nisso antes? Deixe-me ver... conferiu o cadernão que era o currículo. Ah, tá aqui... O condenado que procuro... Cadê... Veio do planeta Terra após se sacrificar... Era um saiyajin, e o nome dele é...
- Vegeta. completou o guarda. Mas, por que veio procurá-lo? As acusações contra ele são tão graves, que tivemos que passá-lo para frente da fila, para apagarem as suas memórias!
O baixinho se desesperou:
- O quê?! Eu não posso perdê-lo!!
- Por quê?
- Porque são ordens do chefe Enma Daioh, e com o aval do Grande Senhor Kaioh! entregou ao guarda um documento.
- Então me acompanhe, meu jovem.
Os dois entraram corredor adentro, procurando pelo guerreiro com os olhos. O ambiente parecia mais um corredor da morte dos filmes de Hollywood. Ali estavam, em fila, todas as almas condenadas ao esquecimento. Muita choradeira, muito arrependimento tardio, muita revolta e até toque melancólico de gaita. À frente, estava uma enorme porta de ferro. Ao passar por ela, os condenados deixariam de existir, perderiam suas memórias.
- Ele está lá na frente. o guarda disse. É o primeiro da fila.
O jovem funcionário prosseguiu, sob o olhar atento do guarda, à procura do primeiro da fila. Como seria o dono desse currículo tão assustador? Que aparência ele teria? Imaginou logo um brutamontes, com o triplo de seu tamanho, rugindo e espumando como um animal raivoso. Mas o primeiro da fila não era nada disso. Era um baixinho de uniforme azul e cabelo espetado, que esperava a sua vez, encostado numa parede e de braços cruzados. Estava de olhos fechados, como se estivesse imerso em seus próprios pensamentos. Qualquer desavisado pensaria que ele era um terráqueo inofensivo. Ele tem o meu tamanho, e tem um currículo medonho desses?, pensou. Seria ele? Arriscou:
- Vegeta, eu suponho...
- Sim. o saiyajin respondeu indiferente. O que quer comigo?
- Meu chefe, o senhor Enma Daioh, quer que eu o leve até ele.
Vegeta abriu os olhos para ver com quem estava falando. Viu que o sujeito à sua frente não passava de um fedelho. Perguntou, com o mesmo ar indiferente:
- Para quê?
O celular do jovem empregado de Enma tocou. Ele atendeu:
- Alô... Sim, chefe, já o encontrei... Como? Está bem, entendi... Certo... Tchau!
Disse a Vegeta:
- É melhor me acompanhar.
- Pra quê? Posso saber? o saiyajin começou a se aborrecer.
- O jeito é explicar... O seu corpo foi reconstruído, exatamente do jeito que era... Isso significa que você não vai continuar aqui pra perder sua memória. viu que o guerreiro parecia não dar bola pro que ele dizia. Bem, se isso não o interessa, aí vai outro motivo pra me seguir: parece que a situação do planeta de onde você veio tá bem feia. Tão feia que o chefe resolveu requisitar um condenado com um currículo horroroso como o s...
O saiyajin o agarrou pela gola da camisa:
- ONDE ESTÁ MEU CORPO? ME LEVA ATÉ ELE!! esbravejou.
Tinha a sensação de que seu sacrifício tinha sido em vão, mas raciocinou poderia ter surgido algo ainda pior do que Majin Boo, para chegar ao ponto de alguém aparecer para requisitar um condenado como ele. O que seria?!
- Tá... me... sufocando!! disse o rapaz. Se não me soltar... não tem como eu te levar... até o seu corpo...!
Vegeta logo o soltou. O coitado caiu sentado no chão.
- Vê se vai mais devagar aí... Quase acaba comigo! reclamou. Bem... Vamos lá. Tem velocidade pra me acompanhar?
- Se fui rápido o suficiente para parar você...
O funcionário de Enma ficou revoltado com o cinismo dele:
- O QUÊ?! Então foi você que me torrou com aquele raio? Eu poderia ter virado pó e você ficaria sem corpo e sem memória!!!
Sarcástico, Vegeta argumentou:
- Eu estava um tanto entediado. Ficar naquela fila me deixou aborrecido!
Quem ficou aborrecido foi o rapaz.
- Olha, pelo seu currículo sei que você não gosta de receber ordens, mas é melhor me seguir, porque não temos muito tempo. E sem me torrar com outro raio, hein?
Assim, a dupla saiu do corredor, em meio a protestos dos condenados que ficavam por ali mesmo. Dois grandalhões se puseram na frente deles, dispostos a impedir a saída. Um deles alegou:
- Por que ele vai sair? Ele é muito mais perigoso do que nós todos!
- Ordens do meu chefe, o Senhor Enma Daioh! replicou o funcionário.
- Grande coisa! disse o outro.
E aí eles partiram pra cima da dupla, mas acabaram nocauteados por Vegeta, que deu apenas um golpe em cada um. Em meio ao silêncio gerado pela ação do saiyajin, ele, irônico, perguntou:
- Quem é o próximo a me encher?
Ninguém ousou respirar, nem mesmo o rapaz. Este estava impressionado. Puxa... Se assim ele derrubou aqueles dois, imagina com corpo..., pensou.
- O que está esperando, moleque?!
- Ah... Nada, vamos lá!
Depois desse incidente, os dois seguiram ao destino sem novos problemas. Chegaram a um laboratório e ali encontraram os outros dois empregados de Enma.
- E aí? o rapaz perguntou. Cadê o corpo?
- Ali. o gordinho apontou para um vidro.
Do outro lado do vidro, via-se um corpo estendido sobre uma espécie de mesa. Aparentemente, era exatamente como o corpo que Vegeta tinha, antes de se autodestruir. Estava apenas inerte, pronto para armazenar uma alma.
- Tá aí o corpo, Vegeta. disse o rapaz. Exatamente como antes. As mesmas características físicas, a mesma resistência... É só entrar na sala, tocar o corpo e aí você entra nele, entendeu?
Nenhuma resposta. Ele já estava dentro da tal sala. Chegou até seu corpo. Sim, pelo jeito eles haviam feito tudo direitinho, partícula por partícula, célula por célula, átomo por átomo. Reconstruíram até seu uniforme.
- Ei! disse o gordinho. Coloque a mão sobre o peito dele, que você entra!
O saiyajin não titubeou. Tocou o local indicado e desapareceu como se tivesse sido aspirado. Um clarão tomou conta do lugar e quase cegou o trio de funcionários. Será que funcionou?
O clarão passou. O corpo continuava no mesmo lugar e do mesmo jeito. O rapaz baixinho perguntou:
- E aí? Funcionou?
- Vamos ver... disse o magrelo.
O corpo não dava sinal de vida, até que uma auréola apareceu sobre a cabeça dele. De repente, acordou. Vegeta acordou, como se tivesse tido um pesadelo. Olhou para as mãos, novamente sólidas. Abriu e fechou as mãos, sentindo cada movimento feito. Sentia o ar encher os pulmões cada vez que respirava, e o coração a bater no peito. Tinha dado certo. Estava dentro de seu corpo. Mas não estava vivo. Tinha, por cima de sua cabeça, uma auréola igual à que Goku possuía, indicando que ainda estava morto, logo estava impossibilitado de ir ao mundo dos vivos.
Os três funcionários viram tudo e comemoraram a operação bem-sucedida de resgate de um condenado. Agora, era levá-lo até o castelo de Enma Daioh.
- EI, CHEFE! CONSEGUIMOS! uma voz triunfante ecoou no escritório.
Enma olhou para o chão. Viu o rapaz que tinha mandado para buscar a alma de Vegeta. Difícil de acreditar que ele era um estagiário recém-promovido.
- Onde ele está?
- Ó ele aí! disse o rapaz.
Nisso, o saiyajin entrou no escritório, junto com aqueles que reconstruíram seu corpo. Enma o fitou e disse:
- Bem... Parece que vocês fizeram um bom trabalho. Estou surpreso!
- Ah, obrigado, chefe! disse o baixinho.
- É melhor ir direto ao assunto! interrompeu Vegeta. Por que me tiraram de lá?
Enma respondeu:
- Precisei manter a sua alma como garantia...
- Do que está falando?!
- Bem, vou tentar ser direto... Mandei reconstruir o seu corpo porque a Terra continua correndo perigo.
- O quê?
- Isso mesmo. A verdade é que Majin Boo... ainda está vivo!
Aquilo caiu como uma bomba para Vegeta, que, na hora, ficou sem reação. Mas sua mente trabalhava a mil, trazendo de volta todas as lembranças do combate contra Boo, desde que o fez surgir durante a luta contra Goku. Tudo passava novamente como um filme em sua cabeça, detalhe por detalhe de sua agonia nas mãos daquele monstro, até usar sua cartada final: sacrificar sua vida com uma grande explosão, numa tentativa desesperada de deter Majin Boo.
E agora, a pior parte: Majin Boo ainda estava vivo, o que significava que seu sacrifício tinha sido totalmente em vão. Isso o revoltava, a fúria o dominava, à medida que lembrava que tinha dado cabo de sua própria vida e, na verdade, não havia adiantado nada. Tudo... Tudo em vão!, pensou. Por quê?! E esbravejou:
- COMO AQUELE MALDITO DEMÔNIO SOBREVIVEU?!
Nem Enma Daioh sabia como responder à pergunta de Vegeta, que, enfurecido, liberou todo o seu poder de Super Saiyajin 2 dentro do escritório. Enma só não saiu voando de lá por causa do tamanhão que tinha. Mas seus empregados foram lançados pra fora pela ventania produzida por todo aquele poder e fúria emanados do saiyajin. O único funcionário que restou foi o jovem baixinho, que ficou prensado na parede por toda aquela ventania e impressionado com tanta energia proveniente daquele ser.
- Assustador... Muito assustador... ele disse.
Passado o momento de fúria de Vegeta, Enma Daioh e Vovó Uranai o puseram a par do que tinha acontecido, desde logo após seu sacrifício, até aquele momento, passando pelas sucessivas transformações de Majin Boo, pela inacreditável transformação de Goku em Super Saiyajin 3, pela fusão de Goten e Trunks, até chegar à luta de Gohan, que ainda estava vivo. As expectativas em relação à luta contra Boo não eram animadoras.
Mas, se era para ajudar a deter aquele monstro rosa, ele ajudaria. Não era próprio do seu caráter, porém, como responsável pelo despertar de Majin Boo, sentia-se na obrigação de eliminá-lo a qualquer preço.
- É por isso que mantive sua alma como garantia... E também é por isso que estou lhe dando um corpo... Vá socorrê-los... Enma, por fim, disse.
Falou à vidente:
- Leve-o para a Terra... Rápido...
- Sim, senhor... Vovó Uranai respondeu.
- Hum... Pedindo ajuda para o vilão? Vegeta perguntou, irônico. Lamento não poder dar muitas esperanças de ajuda contra Majin Boo...
Ao sair do castelo de Enma, pensou:
... Mas farei o possível para destruí-lo...
Apesar de saber que seu poder de luta era muito limitado frente a Boo, estava disposto a fazer tudo o que pudesse para eliminá-lo de uma vez por todas. Não tinha ajudado Gohan a vencer Cell, no passado? Ajudaria a derrotar aquele monte de sebo, nem que fosse para contribuir com um único golpe.
- Está pronto para me seguir? Vovó Uranai perguntou ao saiyajin.
Foi a mesma pergunta que fez a ele, antes de levá-lo ao além. Naquela ocasião, ela viu um saiyajin resignado, de olhar distante. Agora via um guerreiro decidido, e os olhos negros refletiam aquela autoconfiança tão típica de seu caráter, agora reforçada pela nova chance que acabara de receber.
- Vamos logo! ele disse.
Assim, eles partiram. Vovó Uranai, à frente, para conduzir Vegeta de volta à Terra. O saiyajin estava ansioso por mais uma luta. Por mais um desafio. Por mais uma chance para mudar seu destino. Chance que não deveria desperdiçar...
Fim