Hermione estava sentada perto de uma das janelas da enorme biblioteca. Concentrada na leitura sobre criaturas místicas, quase não percebia o que ocorria ao seu redor. Um vulto escuro passou por ela, e um pedaço de papel caiu na mesa escura. A jovem Granger olhou sem entender.
Uma risada jovial fez-se ouvir atrás dela. A garota virou-se na cadeira. Adam Storm, um garoto de cabelos castanhos que chegavam até os ombros e olhos cinzentos como uma tempestade de inverno, sorria-lhe de uma forma travessa. As alunas que estava por perto suspiravam de paixão.
Hermione conseguiu abrir um sorriso tímido. Adam pareceu satisfeito, até abriu a boca para dizer algo. Antes, porém, que pudesse expressar o que queria em palavras, um amigo segurou-o pelo braço e sussurrou algo em seu ouvido. Storm riu, suas bochechas ficando intensamente coradas por alguma razão. Sem dizer mais nada, virou-se e seguiu seu caminho.
A partida do garoto foi seguida por murmúrios urgentes e ansiosos. Não havia uma única aluna ali que não gostaria de estar na pele de Hermione. Esta, sabendo que era alvo de muitas conversas, voltou o olhar para o livro. Ou pelo menos tentou. O pequeno pedaço de pergaminho que Adam deixara sobre sua mesa parecia berrar para ela. Com todo cuidado do mundo, abriu-o.
“A bruxa mais inteligente (e gata) de Hogwarts. Sério, se você fosse animaga, seria uma orgulhosa leoa e não uma coruja, como alguns invejosos insistem em dizer!”
Lobo abaixo das palavras caprichosamente desenhadas, havia a gravura de uma poderosa leoa que rugia para pequenas gatinhas medrosas. Hermione riu consigo mesma e guardou o presente no bolso, ignorando os olhares curiosos (e invejosos) das outras garotas.
Mal tinha retomado a leitura, quando sentiu algo tocar seu ombro. Com um salto, virou-se para trás. Um Rony visivelmente zangado (provavelmente por algum motivo fútil) encarava-a como se a acusasse.
- O que foi? – ela sussurrou.
- O que foi isso? – ele arqueou a sobrancelha.
- Eu perguntei primeiro. – ela ergueu o queixo.
- O que o Adam Storm queria? – disse o Weasley, sílaba por sílaba, sentando-se na cadeira ao lado de Hermione.
- Eu não sei. – ela deu de ombros – Não me disse.
Antes que Rony pudesse voltar a protestar, ela ficou de pé. Pegando os pesados livros de magia no colo, encaminhou-se para uma das estantes e começou a guardá-los. Apenas alguns poucos segundos depois, o ruivo apareceu ao seu lado de novo.
- Hermione, ele não presta.
Ela deixou que um dos livros caísse em seu lugar na estante e fuzilou o Weasley com o olhar. Sabia que ele faria o possível para não se mostrar intimidado. Na verdade, ele estava tão decidido a tal, que empinou o queixo tal qual ela fizera momentos antes.
- Não tem o direito de dizer isso, Ronald. – ela disse, soando mais calma do que de fato estava.
- Mas, Mione, ele não passa de um garoto fútil que só quer “dar uns pegas” nas garotas da escola!
- “Fútil” é o seu vocabulário, Ronald. Agora saia daqui antes que eu te imobilize com algum feitiço que você não seja capaz de quebrar.
- Como se eu já não conseguisse me livrar do último feitiço... – ele resmungou.
- Como?
- Nada!
Ela apertou os olhos, o que lhe deu um ar ainda mais assustador. Rony recuou um passo e fingiu interesse pelos livros. Inclinando a cabeça, pôs-se a ler os títulos nas lombadas, cutucando-as com os dedos para se distrair.
- Quer saber o que eu acho, Rony? Eu acho que você está com “você-sabe-o-quê”.
O garoto assustou-se e quase deu salto, fazendo com que um pesado livro sobre corujas cara-de-lua caísse em seu pé.
- Ai! – exclamou.
- Idiota... – Hermione murmurou, revirando os olhos.
- Eu não estou com “aquilo”! – Rony fez uma careta – Imagine! Por que razão eu sentiria... – ele parou – O que você quer dizer com “você-sabe-o-quê”?
- Ora... – ela encolheu os ombros e se afastou da estante – Você sabe o quê.
Com um sorriso sarcástico no rosto, ela se virou e saiu da biblioteca, deixando para trás um atônito e enfurecido Ronald Weasley.