- Ei, Ash.
- Sim?
- Você me ama?
O garoto coçou a cabeça. Em vez de pensar em juras de amor e beijos apaixonados na praia, ele se via imerso em um único e desrespeitoso pensamento. Mais precisamente, uma palavra. Uma palavra de duas sílabas que começava com “f”.
- Por que isso agora, Misty?
- Ah, sei lá. – ela se acomodou melhor no sofá roxo e puxou a barra do vestido para baixo – É que você fica o tempo todo falando de batalha, batalha, batalha. Eu até fico me perguntando se... Você pensa em mim. – a ruiva encolheu os ombros, tímida.
- Claro que eu penso em você, Misty. Você é minha namorada. – esquivou-se o garoto de cabelos espetados.
Misty balançou a cabeça.
- Não estou falando disso. Sabe muito bem, Ash.
Ele engoliu em seco. Olhou para Pikachu, que brincava de Lego no tapete da sala.
- Pikapi. – respondeu o roedor. “É com você, cara.”
- Misty, eu gosto muito de você. Eu adoro você. Agora, será que podemos voltar a assistir ao filme? – ele perguntou, ansioso para apertar o botão play do controle remoto e continuar assistindo as aventuras de Jay Carren.
- Sim, mas você me ama?
E a palavra não era “ferrou”.
- Misty. – ele bateu com o controle no joelho – Que chata você, hein? Estamos juntos há apenas dois meses.
Ela fez um som de descrença.
- O Drew e a May estão juntos há apenas um mês, e ele já disse que a ama.
- É diferente. – resmungou Ash – Esses aí vivem terminando e reatando. No total, eles já devem ter quase três anos de namoro.
- É verdade. – admitiu Misty, recostando-se no namorado – Mas você me ama?
- Caramba, Misty! Vamos ver o filme! Dá para ser?
Ela recuou, ressentida. Ash fingiu ignorar e apertou o play. Bem no momento em que Jay Carren lançava um feliz Piplup no chão do corredor do hotel para uma brincadeira de deslizar de barriga, a ruiva o interrompeu de novo.
- O Paul pediu a Dawn em namoro na semana passada. – disse, cruzando os braços.
- Azar o dela.
- Ela aceitou.
- Meus pêsames. – os olhos de Ash continuavam grudados na tela.
- Ela tá grávida.
- O quê? – o treinador quase engasgou com a informação – A Dawn? Se fosse a May, eu nem diria nada, mas a Dawn?
- Eu tava brincando. – Misty torceu o nariz – Para chamar sua atenção. E como assim não diria nada se fosse a May?
- Ah, Misty! Aqueles dois vivem na cama. – resmungou o garoto – A May é a maior ninfomaníaca pelo que diz o Drew. Mas ele também é bem safado. Toda hora se gabando das noites que tem com ela. Parece um Ditto, aquele moleque, nunca cansa.
- Tá, mas a May não ficaria grávida, né? Eles se protegem.
- Sei lá... Do jeito que eles estão sempre brigando e dizendo que não vão voltar nunca mais, eu não estranharia que eles reatassem por conta de uma gravidez...
- Não desconversa, Ash!
- Mas foi você que tocou no assunto!
Ela tirou o controle de sua mão e pausou o filme de novo. Encarou o namorado.
- Você me ama ou não?
- Caramba, Misty! Cê não vai mais tirar isso da cabeça, né?
- É uma pergunta simples de sim ou não.
- Não!
A ruiva arregalou os olhos, assustada.
- Não é uma pergunta simples de sim ou não. – ele completou – “Oi, boa tarde! Você quer leite no seu café?” Isso, sim, é uma pergunta simples de sim ou não.
- Mas você nunca sabe dizer se quer leite no seu café.
- Exatamente. – ele ergueu o indicador – Viu onde eu quero chegar?
- Você é louco. – ela balançou a cabeça, desiludida.
- Misty?
- Sim? – ela virou o rosto para ele, tensa de expectativa.
- Devolve o controle?
- Não!
- Caramba, Misty!
- Você ainda não me respondeu! – disse a ruiva, colocando o controle sobre a mesa de centro – Você me ama, Ash?
- Mulher difícil, hein? – ele resmungou, estendendo o braço para pegar o controle. Ela deu um tapa em sua mão – Ai!
- Ash!
- Misty!
- Pikachu! – fez o roedor, jogando seu Pidgey de Lego para o alto.
- Você não gosta de mim, é isso? – ela perguntou, chorosa.
- É claro que eu gosto de você. – Ash tentou consertar as coisas, aproximando-se – Eu adoro você, Misty. Você é a minha sereia. Minha Waterflower predileta!
- Jura? – os olhos dela brilharam.
- Claro. Agora vamos ver o resto do filme.
Ash pegou o controle e apertou o play. Repousou os braços no alto do sofá.
- Encosta aqui em mim. – chamou sua ruivinha.
Ela não se mexeu, porém. Estava com os braços cruzados e os lábios prensados em um biquinho.
- O que foi?
- O Paul disse que ama a Dawn. No terceiro encontro.
- De novo isso? – o treinador esfregou os olhos.
- Ela me ligou toda, toda outro dia.
- Pois você também fica toda, toda quando eu tiro seu sutiã.
Ela lhe deu um tapa. No rosto.
- Ai! O que eu fiz?
- Não é disse que eu estou falando, Ash Ketchum! Você me respeite!
- Mas eu te respeito. – disse ele, tocando de leve a mancha vermelha em sua bochecha – Eu te respeito pra caramba. Respeito seus sentimentos. Respeito seu corpo. Respeito seus peitinhos sexies...
- Peitinhos? – ela se voltou para ele, os olhos verdes enormes.
- Ah, merda... – ele resmungou.
- Você disse que não eram pequenos! – disse Misty, chorosa.
- Vai começar. – ele esfregou os olhos de novo.
- Disse que gostava deles!
- E gosto. Gosto muito. – Ash se defendeu – Mas que são pequenos, eles são.
- Desculpe se eu não tenho as mesmas pokéballs lindas que a May.
- Opa, opa! Pera, que pokéball é outra coisa...
- Achei que tamanho não importasse!
- E não importa! – ele rebateu, desesperado.
- É, não importa. – ela respondeu, debochada.
- Sério, Misty? – ele trincou os dentes, ofendido – Pikachu, me ajuda!
- Pikachu. – respondeu o roedor. “Importa, sim.” Ele nunca ficava satisfeito com os pokémons de Lego que construía. Queria mais peças. Queria um império de Lego.
- Olha, chega disso, tá bem? – Ash assumiu uma postura conciliadora – Eu gosto de você. Você gosta de mim. Nosso namoro é ótimo. Nada de brigas, falou?
Eles ficaram quietos por um instante. Ash teve de voltar algumas cenas do filme para se relocalizar. Tinha acabado de apertar play, quando Misty disse:
- Isso não muda o fato de que você dá mais valores às suas batalhas do que a mim.
- Porra, Misty! – agora ele estava realmente indignado.
- Não fala “porra” para mim, porra!
- Pikachu... – resmungou o roedor, pegando seus pokémons de Lego e se dirigindo para o quarto. “Ah, merda.” Odiava quando Ash e Misty brigavam.
- O que... você quer... que eu faça? – ele perguntou entre dentes.
- Quero que me responda! Sim ou não, Ash?
- Deixa de ser chata, caramba!
- Se não quer responder, é porque não me ama!
- Ah, claro! Gênia!
Ela se ergueu do sofá e conteve a vontade de dar um chute na canela do namorado. Ou nas pokéballs. Foi até o quarto de casal batendo o pé.
- Ah... – Ash esfregou os olhos pela terceira vez.
O treinador ficou de pé e pausou o filme. Espreguiçou-se, reunindo coragem para a mais difícil batalha até então. Encarar sua ruivinha.
- Misty? – chamou, mansinho, entrando no quarto?
- Que é? – ela lhe disse, rancorosa.
- Pika Pikachu! – ralhou o roedor elétrico, pegando seus Legos de novo e voltando para a sala, a fim de se afastar da briga iminente.
- Deixa de ser tão boba! Você... – Ash parou e tentou se concentrar no som baixo que ouvia – Tá chorando?
- Não tô chorando! – Misty reclamou, virando-se de costas para ele, os braços cruzados – Vai embora daqui.
- Misty... – disse Ash, totalmente doce agora – Não chora, minha ruivinha.
- Me deixa!
- Ei...
Ela sentiu a respiração dele em sua orelha. Ash, como sempre, quebrava todas as suas defesas. Abraçou-a por trás com força, deixando claro que não pretendia soltar.
- Por que choras, minha sereia?
Ela fungou.
- Por que você não me ama...
- Quem disse isso?
- Você disse!
Ash hesitou.
- Eu não disse que não te amo. Eu só não disse que te amo.
Ela se voltou para ele, confusa. Ash abriu um sorriso e envolveu seu rostinho com as mãos.
- Gênia. É claro que eu te amo!
- E por que nunca disse? – ela murmurou, relutante.
- E preciso?
- Claro! – a voz dela recuperou a força de sempre – Isso faz falta, sabia?
- Desculpa! Desculpa! – ele se apressou, desesperado para evitar mais uma briga – Misty?
- Que é?
- Eu te amo.
Mesmo com o rosto manchado de lágrimas, ela ficava linda quando sorria.
- Também te amo, babaca.
Eles trocaram um beijo longo, apaixonado. As mãos espertas de Ash percorriam o corpo de Misty, arrancando-lhe suspiros e gemidos. Ela afagava seu cabelo e outras partes do corpo que conseguia alcançar.
- Ei. – ele se afastou, rindo quando Misty se inclinou para mais um beijo – Eu te amo.
- Por que nunca disse?
Ele deu de ombros. Estava vermelho como as bochechas de Pikachu.
- Vergonha.
- De sua própria namorada?
- De dizer que te amo e não ouvir o mesmo em troca. Sei lá, ainda não sei como você, sendo fantástica assim, conseguiu se apaixonar por um idiota como eu que só pensa em batalhas. – ele deu de ombros de novo.
- Então... – os olhos dela brilharam – Você me ama mesmo?
- Claro! – ele disse, abraçando-a.
- Mesmo tendo peitos pequenos?
- Com peitinhos e tudo. – ele a abraçou mais forte – Com seus cabelos ruivos cheirosos. Com seus olhos verdes. Com seus quilinhos a mais.
- Tá me chamando de gorda? – ela perguntou, afastando-se do abraço.
- Porra... – ele resmungou, afastando-se.
- Volte aqui, Ash Ketchum, e explique isso direito!
- Me deixa, vai!
- O Drew e o Paul não chamam as namoradas deles de gordas... E... Volte aqui! Aonde você está indo? – ralhou, seguindo o namorado.
- Já disse que te amo, caramba! – os olhos dela brilharam por um instante – O peso não importa.
- Ah, é?
- Desisto... – ele saiu do quarto.
- Volte aqui, Ash Ketchum! Agora!