Minhas mãos estão sujas de sangue. Em um passado distante, eu jamais pensaria que é tão fácil matar. Em um passado distante, eu tinha uma família. Agora, a morte pesa em meus braços com os cadáveres de todos que assassinei. Cada vítima é como um elo de minha corrente. Quanto tempo falta para eu alcançar a ponta?
Elas são perversas, digo a mim mesmo. Pessoas ambiciosas e doentes que sentem prazer com os olhos escarlates que a encaram, imersos em líquido odioso. Fumam seus cigarros. Degustam seus vinhos. Sempre inebriadas com o falso poder proporcionado pelo dinheiro. Eu gosto de observar sua transformação quando invado suas casas. O suor descendo pelo rosto. A face contorcendo-se de horror. O grito de súplica. A barganha pela vida.
Sinto muito. Mas ninguém aceitou barganhar a vida daqueles que me eram queridos.
O sangue escorre por meus dedos. Mais um elo preenchido da minha corrente. Eu queria saber quantos faltam para completar uma volta, mas já perdi a conta. Depois do quinto assassinato, você para de se importar. São todos tão iguais. Tão desprezíveis... O mundo ficará melhor sem eles.
E este, este aqui especificamente, não tinha qualquer salvação. Sua zombaria ao me dirigir a palavra. Seu cinismo ao mencionar o meu clã. Essa mediocridade tola incendiou minha sanidade, fazendo com que o ódio se alastrasse em meu interior. Fogo intenso em uma tarde seca.
Secos também estão meus olhos e meu coração. Eles não sentem nada com a visão da morte. Passo por cima do cadáver e abro a porta do salão de troféus. Vejo o par de olhos escarlates em uma mesa antiga de mogno.
Minha missão está completa.