O lamento do canário por Jude Melody


 

O lamento do canário

Ficwriter: Jude Melody
HunterxHunter - drama - original
12 anos - spoiler - completa


Quando nós éramos crianças, você apareceu por acaso, trazendo em seu rosto uma expressão infantil. Você me olhava de cima, mas parecia me encarar como se nós fôssemos iguais. Então, você estendeu seu braço, mostrando o objeto que segurava em sua mão pequenina. Eu mantive a postura, inabalada pelas palavras que me dirigia. Você me chamou pelo nome e pediu que eu não lhe chamasse de “mestre”. Aquela era a primeira vez que alguém me tratava como um ser humano.

Sentado no alto da árvore, deixava sua teimosia batalhar contra minha obstinação. Eu me esforcei para não encontrar seus olhos suaves, quase tristes. Você me chamou de amiga, mas eu era só uma empregada. Não poderia deixar que um simples desejo, um mero delírio, ocultasse o enorme abismo que existe entre nós. Então, você desapareceu. Mas o objeto que segurava caiu no chão. E eu não pude resistir à vontade de torná-lo meu.

Os anos se passaram. Você não me dirigiu mais a palavra. Eu observava de longe o seu crescimento. Seus sorrisos quando brincava com a Mestra Alluka. Sua irritação quando recebia ordens do Mestre Silva. Sua raiva quando era judiado pelo Mestre Illumi. Eu não podia rir. Também não podia chorar. Mas, aqui dentro, deleitava-me com seu jeito infantil. E me amargurava por ser quem eu sou. Uma mera empregada em treinamento.

Por isso eu brinco de manter esta máscara em meu rosto. Não importa quem seja o desafiante. Eu o enfrentarei com meu olhar impassível. Enquanto giro o báculo em minhas mãos, sinto a energia fluir por meu corpo. E eu derroto qualquer invasor. E permaneço em minha posição como uma esfinge. Esperando o dia em que sua voz me encontrará de novo.

Não é que eu esteja apaixonada pelo Mestre Killua ou algo do gênero. Eu não teria essa audácia. Mas esse menino que me olha com esse ar infantil desperta um sentimento em mim. Um sentimento difícil de explicar. Um carinho proibido que deve ser mantido em segredo. E esse carinho é meu maior lamento.

Quando você decidiu fugir de casa, eu senti uma espécie de déjà vu. As lembranças retornaram sem que eu as tivesse chamado. Você me chamou pelo nome outra vez, e outra vez eu fui humana. Então, você voltou, deixando para trás um pedaço de sua infância, como se desejasse transmitir uma mensagem. O mesmo silêncio da partida acompanhou a sua volta.

Agora eu estou aqui. Sozinha. Observando o skate que sempre o acompanhou como se fosse sua sombra. O skate que você deixou cair no chão quando voltou para casa. Eu não entendo suas razões, Mestre Killua. Mas sinto em meu íntimo que também gostaria de tornar este objeto meu. Como o pequeno tesouro que acolhi naquela tarde em que éramos duas crianças.

Eu gostaria de ser sua amiga. Eu gostaria que aquela lembrança de você deixando seu skate cair, como se quisesse dá-lo para mim de presente, fosse mais do que um delírio de minha imaginação. Gostaria de acreditar que esse skate é como o crânio que decora o meu báculo e que faz com que sua presença seja uma constância. Eu quero acreditar... Que eu ainda tenho emoções.

 

 

















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