Vem, minha presa querida. Vem de encontro a mim. Traze contigo teus olhos rubros e tuas correntes de prata. Traze teu ódio flamejante e tua honra maculada. Prensa teus lábios com rancor. Cerra teus punhos até a pele sangrar. Chega bem perto, bem pertinho, chega bem junto assim.
Aproxima-te, minha cara presa. Aproxima-te, que quem manda sou eu. Traze tuas palavras mordazes. Traze teu ferido corpo coberto de gazes. Abre teus olhos cheios de vingança. Move teu braço em tua louca dança. Brada. Grita. Insulta. Aproxima-te com esse ardor só teu.
Dize, minha doce presa. Dize as palavras que não podes calar. Não tenhas piedade do assassino que sou. Mostra tudo que tens. Mostra teu medo. Mostra tua raiva. Mostra teu amor. Não escondas nada de mim. Eleva tua corrente. Sussurra tua voz. Não hesites conforme chega o fim.
Vem, minha presa. Vem, que a noite lá fora cai. Vem, que este céu é nosso. Vem, que o tempo não volta mais. Esquece tudo. Renuncia a tudo. Mostra a que vieste e a que vais ficar. Mostra que nada que eu faça poderá te machucar. Mas se cometeres o mais leve deslize, se dispensares o mais breve toque a este nobre caçador... Ah, minha presa! Não te arrependas. Pois a morte é o menor dos males quando se tem diante de si o mais vil pecador.
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