A cor da vaidade

Ficwriter: Jude Melody
Pokémon - drama, romance - original
12 anos - yaoi/male slash - completa


Os olhos de Jesse buscaram a origem do fogo que se erguia no ar. Soberba, a raposa dominava a clareira com seu lança-chamas, os olhos caramelo brilhando como se chamas também fossem. A seu lado, com um sorriso suave, Tetsuo observava. Era um jovem alto, de cabelos curtos e rubros e um olhar quase tão profundo quanto o de sua Ninetales. Sombras dançavam sobrenaturais em suas faces, como se lambessem as maçãs de seu rosto. E Jesse apenas olhava, desejando beijá-las também.

Ele sempre fora um menino baixinho e magricela. Os cabelos louros cresciam em cachos quase comportados, dando-lhe um aspecto infantil. O rosto era pálido, feito de uma brancura que contrastava com a profundeza dos orbes escuros. Não se viam suas pupilas, mesmo de perto. Jesse era o contrário de Tetsuo, que exibia luz até sob o sol glamoroso do meio-dia. Tetsuo era fogo, e o fogo agora preenchia a noite, nascido do hálito quente da raposa alva.

Jesse tocou o headphone com a ponta dos dedos. Não estava ouvindo música, mas deixava os ouvidos tampados, talvez para afastar os sons noturnos que ainda o assustavam. Sem palavras, abaixou o rosto, fitando a grama. O calor atingia-o como uma onda que enlaça calmamente as suas vítimas. E Jesse se perdia naquele calor. Ele se perdia no riso de Tetsuo, que alisava contente os pelos da raposa. Ele queria que aquelas mãos tocassem seus cabelos também.

— Ei, Jesse! — exclamou o ruivo, perdendo-se na imensidão azul. — Veja o quão alto sobem as chamas da minha Ninetales! Elas quase alcançam os céus!

O menino sorriu. Tetsuo uivava de deleite, e a raposa deslizou suas caudas uma a uma para o lado em sinal de gratidão. Era um movimento belo, hipnotizante. Nove feixes de luz erguendo-se e caindo uns sobre os outros em um pequeno montinho de pelos. Jesse queria aninhar-se ali, indefeso contra aquele calor gostoso e aqueles gritos de pura felicidade. Ele imaginava Tetsuo deitando-se diante dele, o piercing brilhando em seus lábios finos. Tetsuo entrelaçaria os dedos longos em seus dedos curtos e delicados, e eles apreciariam a noite que se estendia sobre seus corpos. A raposa seria a única testemunha — verdadeira guardiã daqueles jovens treinadores que não temiam o que a vida lhes reservava.

Jesse deu um passo tímido para frente. E depois outro. Arrastou-se até Tetsuo, as mãos escondidas nos bolsos do casaco para ocultar os tremores. Ele respeitou aquele espaço mínimo que os grandes amigos sempre conservam um do outro. Observou as chamas, que eram ainda mais belas vistas assim de perto. Jesse não percebeu que seus lábios estavam abertos. Fascinado, afastou o headphone de suas orelhas, descansando-o sobre seus ombros. Sem querer, encostou no braço de Tetsuo. O leve toque despertou o pânico, e o menino recuou.

Não era preciso tanto medo. Tetsuo estava sorrindo. Um sorriso cálido como o fogo que se erguia diante deles. As profundezas nos olhos de Jesse nunca foram tão grandes. Faltava-lhe o ar. O sorriso consumia todo o oxigênio, como se chamas fosse. Jesse finalmente se lembrou de fechar a boca. Apertou os lábios, deixando que seus sonhos despedaçassem um a um, como caudas que caem delicadamente umas sobre as outras. A quem estava enganando? Tetsuo nunca se interessaria por ele. O amor de Tetsuo era uma mentira que a vaidade de Jesse há muito desejava.

— Jesse.

Lá estavam as profundezas outra vez. Olhos arregalados voltaram-se para Tetsuo, que estendia uma de suas mãos para os cabelos dourados. A diferença de altura era ridícula; Jesse sentia-se uma criança. Ou talvez Tetsuo fosse alto demais, maduro demais. Era difícil dizer quando ele esboçava aquele sorriso moleque cheio de vida e sede por aventuras. Mas havia algo mais. O sorriso era cálido, feito de um carinho que apenas a mais sincera admiração pode proporcionar.

— Obrigado por vir comigo. Você é a única pessoa com quem eu gostaria de compartilhar este momento.

Tetsuo afastou a mão e tornou a olhar as chamas da Ninetales, que começavam a minguar. A raposa estava se cansando e movia as caudas em uma última dança, uma despedida àquela performance que tanto encantara os treinadores. Jesse tocou seu headphone outra vez, pensativo. De repente, os sons da floresta não o assustavam mais. Ele estava feliz. Discreto, abaixou o rosto suavemente. Não queria que Tetsuo visse. Água emergia das profundezas que eram seus olhos. E ele sorria.

— Você está feliz, Jesse? — perguntou o ruivo.

O menino não respondeu. A mentira mostrara-se verdade. Mas a vaidade impunha o silêncio.

 

 

















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