Aqueles olhos despertavam a atenção da menina. Vermelhos. Vorazes. De humano, nada tinham. Contudo, o demônio era de uma humanidade inabalável. Acompanhava as crianças como se fosse seu guerreiro protetor, rindo de suas brincadeiras, deleitando-se com seus sorrisos. O menino era mais quieto. Gostava de olhar as nuvens, de se sentar à beira do riacho. Mas Rosette...

— Chrono, deixa eu trançar seus cabelos!

Ele a mirava com serenidade, mal contendo aquele indício de alegria no canto dos lábios.

— Rosette...

— Deixa! — Os olhos dela brilhavam. — Por favor, Chrono!

O demônio virava o rosto. Não respondia. Mas seus cabelos estavam ali. Lisos. Sedosos. Roxos. E Rosette tomava-os em seus dedos, sentindo a textura, o perfume. Joshua lançava-lhes um olhar preguiçoso e logo adormecia. O mundo era apenas deles. As sombras daquelas árvores, o burburinho das águas, a maciez das nuvens.

— Eu adoro seus cabelos, Chrono — dizia Rosette.

Ele fechava os olhos, apreciando o leve puxar. Às vezes, sentia as pontas dos dedos de Rosette roçarem sua nuca. Um toque leve, cálido. E cálido era o seu sorriso quando a menina deitava-se ao lado do irmão, cedendo à preguiça. Chrono inclinava-se para frente, observando as crianças. E acreditava que estava velando seus sonos.