Uma história de amor em três atos

Ficwriter: Jude Melody
Pok�mon - drama, romance - alternaverse
15 anos - yaoi/male slash - aguardando continuação


A Academia Rocket para Treinadores era uma instituição de excelência. Apenas os mais inteligentes, os mais habilidosos e os mais visionários conseguiam uma vaga. Ou os mais ricos. Permita-me contar-lhe um segredo: na verdade, o talento não importava de verdade. Na Academia, as conversas davam-se por meio de dinheiro, status, influências. Filho de um coordenador mundialmente famoso? Oh, sim, sim, pode entrar. Herdeira de uma família com décadas de tradição? Por aqui, por favor. Neto de um dos antigos membros da Elite Quatro? Senhor Herbert! Onde está o tapete vermelho? Aluno de uma escola pública naquela cidadezinha pequena munido de uma carta de recomendação de um professor esquecido pelo mundo? É... como era seu nome mesmo?

James Baudelaire desaprovava essa estrutura. Tolice a seu ver. O valor de uma pessoa não se define pelos números de sua conta bancária ou pelo número de quartos em sua casa. Ele sentia nojo. Nojo daquela hipocrisia, daquele vazio, daquela superficialidade. Quando cruzava os corredores, via os mesmos sorrisos de sempre, as mesmas joias brilhantes, os mesmos vestidos e ternos feitos do mais belo cetim. Com um suspiro, recostava-se na parede e fitava a paisagem pela janela. Quanta tristeza... No fundo, tudo se resumia a contatos. Fale com as pessoas certas, e seu futuro estará garantido! Eu posso contar-lhe uma história fascinante em primeira mão. De uma época antiga, em que ainda era criança e sonhava com uma carreira de sucesso. Mas acho que não está aqui para ouvir minhas ladainhas. Voltemos ao James. Ele é, como deve ter percebido, o protagonista desta fantástica peça.

Ou quase. Ah, mas é claro. Há muito ainda que preciso esclarecer. Mudemos de cenário. Esqueça a Academia por enquanto. Tenho certeza de que foi capaz de imaginá-la. Um castelo? Sim, bem bonito, por sinal. Com um jardim magnífico, guardas por todos os lados e janelões imensos para que um pouco da luz do sol e do ar puro da natureza penetrasse os corredores — não que isso ajudasse muito; eles estavam infestados pelos perfumes da alta sociedade. Pois bem, pense agora em uma mansão. A cor e o design não importam muito. Acho que, no fim das contas, todas as mansões são um tanto iguais. Uma infinidade de quartos. Cômodos que ninguém nunca usa. Uma estufa — para a senhora Baudelaire. Um grande lago com um iate — para o senhor Baudelaire. Uma sala de estar escondida para os funcionários. E... o que mesmo? Ah, sim! Um campo de batalha — para James.

Ele era filho único. Os pais mimavam-no com todos os bens materiais que a fortuna pode comprar. Curioso que faltasse ao jovem justamente o carinho, a compreensão, a proximidade... Ele sonhava tanto com aqueles filmes em que a família reúne-se em volta da mesa, e cada um conta como foi seu dia, e, ao final, todos riem com gosto. Em vez disso, James tinha apenas sua solidão. Ou melhor, James tinha seu Growlithe. Cachorro esperto, bonito. Vermelho como o mais intenso fogo. Listrado como o mais feroz guerreiro. E um pompom no lugar da cauda. Nada que ofendesse sua bravura. Naquelas manhãs solitárias, James acordava com lambidas em seu rosto e resmungava diversas vezes enquanto dentinhos afiados puxavam a barra de seu pijama. Naquelas tardes solitárias, James treinava no campo de batalhas, ordenando ataques e esquivas, até que em meio ao calor das chamas de Growlithe, ele encontrasse o calor do acolhimento. Naquelas noites solitárias, James acomodava-se na cama após o jantar e as tarefas da escola e deixava os dedos deslizarem sobre os pelos brilhosos de Growlithe. O cachorro virava-se para ele, erguendo o focinho, e era possível ver a preocupação em seus olhos. Dormiam. E o dia seguinte era uma eterna repetição.

Não se deixe desapontar. Sim, esta é uma daquelas famosas histórias sobre um menino e seu cachorro. Mas já adianto que ela não terá um final tão feliz assim. Se espera uma reviravolta interessante em que o senhor e a senhora Baudelaire percebem o quanto estão sendo tolos ao deixar o filho de lado, sugiro que procure algum outro romance; quem sabe até mesmo um desses filmes em que as crianças fazem travessuras mirabolantes para conseguir a atenção dos pais, e todos vivem felizes para sempre, ou algum clichê do gênero. Oh, não. Nesta história que irei contar, os pais de James são quase tão presentes quanto um papel de parede. De algum modo, estão sempre por perto, mas ninguém presta realmente atenção. Não é à toa que os dois sequer possuem nomes. Senhor e senhora Baudelaire. Isso basta. Afinal, eles eram muito mais isso do que pais de verdade. Começo triste, desenrolar triste... Desfecho... Quem sabe?

Mas, por hora, voltemos à Academia — e eu juro que permaneceremos nela durante um bom tempo! Voltemos a James parado no corredor, recostado na parede, fitando a paisagem pela janela. Ele sabia que teria um grande futuro. Estudava em uma escola de excelência, com acesso aos melhores professores e aos mais modernos mecanismos de batalha. Mas ele sentia-se tão só... Quando não estava nas aulas de treinamento, ordenando ataques e esquivas a seu fiel Growlithe, sentia-se vazio como uma Pokébola sem monstrinho algum. Suspirava pelos cantos como um tolo apaixonado, mas sua paixão era uma liberdade inatingível, um desejo de rasgar tudo e ser quem ele realmente queria ser.

Até conhecer aquele garoto.

Jesse. Ruivo. Olhos azuis. Sorriso dissimulado. Lembra-se daquele aluno do começo? O que veio de uma cidadezinha pequena? Munido de uma carta de recomendação? Pois é. Eis o tal aluno. Jesse tinha um sorriso quente como seus cabelos curtos bagunçados. Vestia um terno simples, com a camisa social por fora a calça e a gravata frouxa. Brincos verdes nas orelhas. E uma voz que pelo amor... James olhava-o abobado. Nunca vira figura tão estranha, tão... excêntrica. No bom sentido da palavra. Afinal, todos na Academia eram excêntricos às suas próprias maneiras. Mas Jesse... Ele tinha uma personalidade forte. Um andar confiante. Olhos que brilhavam de malícia. Um desejo ardente, angustiante, de alcançar o topo. E um rosto bonito. E pernas longas. E um peito largo que pelo am...

James não sabia o que pensar ou dizer. Afastava-se. Observava de longe. Jesse sozinho na mesa do refeitório. Jesse cruzando os corredores com uma postura altiva. Jesse folheando um livro enquanto acariciava os pelos de sua Meowth. E James corria para o campo de batalha. Chamava seu Growlithe. Treinava. Combatendo fogo com fogo. Ele acreditava piamente que estava duelando contra o fogo de Jesse, o coitado. Custou-lhe perceber que o fogo combatido era dele próprio. Sim! Jesse despertava em James aquele desejo, aquele ardor, aquela vontade de quebrar as regras e mostrar ao mundo o quanto ele é hipócrita. E, quando Growlithe lambia seu rosto ao encerrar dos treinamentos, James afagava suas orelhas e sorria para o suor escorrendo em seu rosto.

 

**

 

Não se encante tanto. Os garotos sequer conheciam um ao outro. Apenas trocavam aqueles olhares dispersos nos corredores, nada comprometedor. E James movia os dedos sem parar, apertava o nó da gravata, prensava as pálpebras... Como lidar com o tun-tun em seu peito? Sempre que Jesse passava por ele, era um Terremoto. E o pobre Baudelaire perdia-se em um Surfe de emoções, ora erguido no mais alto Voo, ora imerso no mais silencioso Mergulho. Cansou-se logo dessas brincadeiras sem graça. Naquela tarde tranquila, buscou seu recanto em uma sala de aula qualquer. O professor do terceiro tempo faltara, e James tinha uma hora inteira para usar como quisesse. Puxou a caixinha do bolso interno do paletó. Ela era bonita, fora presente de sua mãe — o único do qual James gostara de verdade. Deveria abrigar uma gaita folheada a ouro, mas, em vez disso... Tampinhas. James era um colecionador incurável.

Growlithe movia a cabeça de um lado para o outro, acompanhando o brilho reluzente das peças metálicas. James iniciara a coleção ainda criança e guardava seus tesouros com todo o amor do mundo. Ainda se lembrava da história da maior parte das tampinhas. Um passeio de colégio no qual aquela garota bonita entregara-lhe a garrafa de refrigerante, dizendo que não queria mais. Uma viagem a outro país, onde encontrara um comerciante simpático com um sotaque que provocara risos. Uma tarde alegre na companhia de seus pais, os três sentados na praia enquanto James mordia o canudo de plástico fitando o pôr do sol... Suspiro. Estendeu o braço e fez carinho nas orelhas vermelhas.

De repente, o susto. Isso são tampinhas? James virou-se para a porta em sobressalto. E lá estava ele... Jesse... O braço encostado no batente. O corpo meio relaxado. A perna direita dobrada, com o pé dançando sobre a ponta do sapato. E os olhos brilhando de interesse. James recolheu as tampinhas rapidamente e fez menção de guardar a caixa. Mas o ruivo era rápido, o malandro. Pôs as mãos sobre a mesa e fitou o Baudelaire. Eu posso ver? Parecem tão bonitas. James engoliu em seco. Lançou um olhar desesperado a Growlithe, que abaixou o focinho. Pode... Jesse sorriu — que sorriso lindo! — e pegou a caixinha. Sim, ele gostava mesmo delas. Tomou-as na palma da mão, alisou-as com as pontas dos dedos. Quando eu era criança, meu sonho era beber esse refrigerante, mas ele era caro, e meus pais eram pobres. James moveu-se na cadeira. Não são mais? Jesse meneou a cabeça. Eles morreram. Moro com meus tios agora. Ou morava, pelo menos. Agora estou dormindo no alojamento.

Que mancada terrível, James! Ele abaixou o rosto, envergonhado. Jesse devolveu-lhe as tampinhas. Sua coleção é legal. E foi embora. Assim, tão simples. Como se usasse um Teleportar. Como se fosse feito de ondas psíquicas e desaparecesse a seu bel prazer... Talvez fosse mesmo. Afinal, ele hipnotizara James.

(E James gostava.)

 

**

 

O fim do primeiro ato aproxima-se. Faça suas apostas. Ou não. Peças foram feitas para serem degustadas. E James degustava Jesse. Degustava seu perfume, sua aparência, sua voz. Ao encerrar daquela semana, dirigiu-se resoluto ao alojamento com Growlithe marchando a seu lado. Apenas os alunos bolsistas frequentavam aquela parte do alojamento — os ricaços tinham um terreno imenso apenas para si e não dividiam seus enormes quartos com ninguém. Onde fica o quarto do Jesse? A garota piscou para ele. O ruivo? É... James engoliu em seco. O ruivo. Ela indicou uma direção qualquer. Terceira porta à direita. E lá se foi James, contando os passos. Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, quatro. Um, dois, três, qua... Deu um pulo para trás. Jesse também. Quase esbarrara no coitado ao se aproximar da porta. E Jesse só sorrisos. Vejam só! É o riquinho das tampinhas! O que te traz aqui? Por acaso você se perdeu? O tom de deboche era evidente, mas James não se acovardou. Estendeu a garrafa. Eu achei que... você poderia começar uma coleção de tampinhas também!

Os olhos de Jesse brilharam.

 

 



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