Hitokiri: Ama-me como sou

Ficwriter: Kaoru_dono
Rurouni Kenshin - ação/aventura, drama, geral, romance
12 anos - aguardando continuação


Notas: Este fanfic começa no Bakumatsu, em 1866, um período conturbado no Japão. Kenshin não irá largar sua espada até o final da revolução, como um dos assassinos do Ishinshishi, em batalhas sangrentas que ajudaram a derrubar o Shogunato, vencer o bakumatsu e construir a Era Meiji.

 

Uma observação importante: A segunda parte deste capítulo reproduz apenas parte da história em que Kenshin vai atrás de Tomoe nas montanhas de Otsu. Todos sabemos como a história termina: ele acaba matando a única pessoa que havia prometido proteger.

 

Tomoe foi o primeiro amor de Kenshin e a pessoa que o fez despertar, pouco a pouco, para uma nova forma de encarar a revolução e a sua própria vida: a felicidade não poderia vir da morte de outro ser humano.

 

A morte dela, pelas suas próprias mãos, acabou repercutindo profundamente na alma, personalidade e visão de mundo de Kenshin (na minha humilde opinião ^^). Como ele seria se tivesse conseguido proteger Tomoe, e se tivessem sido felizes juntos?

 

Uma coisa é certa – ele não seria o mesmo homem. Desde as coisas mais óbvias, como a falta da cicatriz em cruz, como as não tão óbvias assim – algumas características de Kenshin, como a recalcitrância em de fato se envolver emocionalmente com os outros, bem como a proibição absoluta de matar que impôs a si mesmo, não teriam mais razão de existir.

 

Por isto, a segunda parte deste capítulo reproduz apenas parte da história passada nas montanhas de Otsu – o final será bem diferente daqueles que conhecemos. Outras mudanças se desenrolarão a partir daí.

 

Gomen pelas notas tão grandes!! Espero que tenham tido paciência de ler até o final e que gostem do fanfic! Obrigada! ^-^

 

 

PS: E sim, o título é inspirado em um certo filme, como fica bem óbvio... Mas a inspiração pára no título, certo? ^^

                                                                             

 

 

 

 

 

 

 

Tominaga bateu a piteira no cinzeiro de pedra escura, a fumaça se desenrolando e enchendo a sala. Estava sentado em uma cadeira de estilo ocidental, Luis XVI, o cenho franzido de preocupação, em um rosto já enrugado e marcado pela idade.

 

Akira pensou que aquela era uma imagem curiosa – o homem à sua frente vestia trages tradicionais japoneses, mas os móveis e os acessórios eram absolutamente ocidentais.

 

Tominaga tragou e deixou a fumaça branca escapar-lhe pelos lábios, pensativo. Parecendo voltar a si, indagou:

 

- O que mais?

 

- Ele tem olhos azuis. – disse Akira lentamente – Azul escuros, como os de um gato.

 

Tominaga arregalou os olhos, incrédulo, e balançou a cabeça.

 

- Você os viu?

 

- Hai, Tominaga-san. Eu olhei dentro daqueles olhos, e o que vi foi loucura. – parou por um instante, um arrepio de morte percorrendo sua espinha. -  A essência da loucura. Nunca vi olhos como aqueles.

 

O velho cuspiu de lado. O feudo de Choshu queria destruir o mundo antigo com sua insanidade, abrindo à força o caminho para o novo. Idiotas....

 

- Mais alguma informação?

 

- Ele usa o kimono escuro e tabis pretos, como em geral o fazem todos os assassinos. O cabelo é avermelhado, mas isto quase não se percebe à noite. Viveu com uma mulher por cerca de seis meses nos arredores de Otsu. E não usa o cabelo tonsurado.

 

Tominaga franziu as sobrancelhas grisalhas a esta última observação.

 

- Qual a idade dele?

 

- Não sei, senhor. Quinze ou dezesseis.

 

- E qual a sua procedência?

 

- Kihei-tai.

 

“Kihei-tai ?! Mais um camponês-soldado?

Estes novos  tempos se tornam cada vez mais estranhos....

A habilidade deste hitokiri não se coaduna, em absoluto, com um egresso das fileiras da colcha de retalhos que é o Kihei-tai.”

 

- Ele ainda vive com esta mulher?

 

- Iie. Partiu com Katsura Kogorou, após uma emboscada no inverno das montanhas de Otsu. Não temos mais o paradeiro de ambos. E a mulher desapareceu como névoa ao amanhecer, pouco antes da partida dos dois.

 

O velho balançou a cabeça, desanimado.

 

“ Teremos que esperar pela próxima chuva de sangue...”

 

 

 

 

 

 

 

Otsu ,  Inverno do ano anterior

 

 

 

Não podia ouvir ou ver direito – o tímpano perfurado, os olhos ofuscados.

 

Mexeu os dedos que seguravam o punho da espada na mão direita, a mão esquerda pousada sobre a bainha. Apesar do corte no ombro, perigosamente profundo, ainda não havia perdido a toda a força com o braço direito.

 

Nas montanhas cobertas de neve, uma trilha de corpos por onde havia passado. Ele a queria, e a queria a salvo. Não pôde esperar para a sua visão voltar ao normal, para que seus olhos voltassem a ver depois da explosão – eles a matariam se demorasse demais.

 

Ao ver o homem na sua frente, ele soube, simplesmente soube, que não iria ganhar aquela luta. Tinham feito tantos planos na noite anterior...! Planos de uma vida de felicidade, que não se concretizariam mais.

 

“Gomen nasai.. Tomoe..”

 

Mas se ele não sobrevivesse, pelo menos ela estaria livre- livre daquela teia de sangue e vinganças. Kenshin usou toda a sua força para girar a espada, a lâmina de aço brilhando azulada sob o sol de inverno, atingindo o corpo do outro com a violência do que seria, talvez, seu último golpe.

 

Então, ele viu o perfume – não apenas sentiu o cheiro, mas viu o perfume, em todas as suas cores iridescentes na quietude branca. Hakubai-kou. E depois, o cheiro de sangue, o quente em seu quimono gelado, o barulho de entranhas sendo perfuradas.

 

“Tomoe... eu... vou te proteger....”

 

Com um último esforço e um grunhido, ele girou a lâmina dentro do corpanzil com tudo o que restava da sua força, e puxando-a para trás, traçou um semicírculo de gotas vermelhas na brancura da neve.

 

O sangue respingou no rosto de Tomoe, os olhos pretos parados e arregalados, fixos nele, perigosamente perto, a apenas quatro passos. Uma chuva de sangue. Como na noite em que se encontraram pela primeira vez.

 

“Eu... não quero que este homem... que esta criança morra....”

 

 

Tomoe havia demorado algum tempo para entender que a raiva que lhe corroía e era dirigida a ele, Kenshin, no fundo, era raiva dela mesma. Como pôde permanecer calada, sem esboçar sequer uma reação, fazendo com que seu noivo caminhasse para a morte em Kyoto? Se ao menos tivesse tido coragem, e mostrado para Kiyosato como se sentia...!

 

*- Você não pergunta, não é?

-Hum?

- Sobre o meu passado, ou o que eu fiz antes de conhecê-lo...

- Mesmo que isto seja só um disfarce, nós vivemos como marido e mulher. Além disto, eu sou... sou um assassino. Pensando nestas duas coisas, como eu poderia fazer julgamentos de valor sobre você ou seu passado? *

 

Toda auto-análise é dolorosa, principalmente se ela mostra que você acabou amando o assassino de seu noivo.

 

“Kenshin...quando você não está matando... como pode ser tão bom ?!”

 

E, quando finalmente se deu conta do que sentia, e teve coragem de concretizar o seu desejo, perdendo-se e perdendo sua mágoa nos braços dele, Enishi apareceu.

Tarde demais... aqueles seis meses, aquela noite, haviam-na transformado em alguém que nem ela mesma conhecia. Ela o amava, e isto era certo. Ele a amava também, e a protegeria. Não queria mais que ele morresse.

Por isto o protegera, mentindo sobre seu ponto fraco; e quando ela percebeu que fora mero joguete nas mãos dos que planejavam matá-lo, e que seu ponto fraco era ela, decidiu que não assistiria a morte dele impassível. Desta vez, faria alguma coisa.

 

 

O homem atingido estremeceu, seu próprio  sangue amargo enchendo-lhe a boca. Já não sentia o gelado do chão, já não sentia dor. Viu a mulher vindo em sua direção com o punhal, antes de ser mortalmente ferido pelo hitokiri.

 

Os dois queriam a sua morte! Como poderia ela amar o assassino de seu noivo? Ele riu e soltou um suspiro entrecortado, o sangue gorgolejante em sua garganta, o corpo retalhado ao meio.

 

“Não entendo... as mulheres...”

 

 

 

Kenshin dobrou o joelho esquerdo, ofegante, a espada pendendo mole ao seu lado, a cabeça quase encostando nos joelhos. Ela está  viva. Ela está viva.

 

Tomoe havia estado perigosamente perto dos dois. Sentiu a mão cálida e trêmula em sua bochecha, a testa encostada na sua.

 

- Não chore, meu querido... Está tudo bem...

 

A voz que lhe falava era a dela, suave, calma e comedida, um pouco trêmula desta vez. Só então se deu conta das lágrimas quentes que lhe escorriam pelo rosto gelado, misturadas com o sangue da cicatriz. Alívio, doce, sublime alívio.

 

 

“Eu... consegui protegê-la....”

 

 

Tomoe deixou o punhal que carregava escorregar para o chão. Sozinhos na imensidão gelada, os corpos se estreitaram em um abraço sem palavras, cheiro de sangue e ameixeiras brancas misturados.

 

 



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Jude Melody - 2009-07-05 01:20:19
Domo (oi)! Pela Lua (de onde eu tirei isso? ¬¬)! Que lindo! Não entendi muita coisa porque não assisti todos os epis de Ruroni Kenshin. O texto-de-aberta-com-spoilers ajudou bastante ^^ Não sabia que o Kenshin tinha se apaixonado antes de conhecer a Kaoro (o nome dela é com "ro" ou com "ru"?) san. Ficou lindo! Você escreve bem ^^ Sayonará!

Kaoru_dono respondeu: Ai ai... muito obrigada Mimika-chan!! Que bom que gostou, epero que goste dos outros capítulos ^^ Pois é, fiz aquela nota no início para situar quem fosse ler o fanfic...Ficou grande né? Na verdade, nem sei se tem o passado do Kenshin no anime! Tem no OVA ( maravilhoso, recomendo ^^) e no mangá. Ele se apaixonou sim, e acabou matando-a enquanto tentava protegê-la. Assim ganhou a cicatriz em forma de cruz... Humm... Acho que se escreve Kaoru, não? ^^ Obrigada por ler e beijinhos!







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