Cassidy olhou o relógio e suspirou. Eram quase onze horas.
O quarto estava frio demais, escuro demais. A única luz vinha de um pequenino abajur que encimava uma mesa de cabeceira.
- Granbu... – ganiu o cachorrinho roxo, deitando a cabeça em seu colo.
- Oh, Granbull... – disse a membra da Equipe Rocket, acariciando o pokemon – Se as coisas ao menos pudessem ser diferentes.
Ouvi-se um rangido e a porta do quarto foi aberta. Butch entrou, trazendo uma bandeja de prata com leite e biscoitos.
- Trouxe nossa ceia. – disse, tentando soar animado.
- Que emocionante. – respondeu Cassidy, tentando não soar sarcástica.
- Ei, foi só o que deu para conseguir. – ele resmungou, sentando-se ao lado da parceira, no chão – Tome.
Ela pegou o copo e bebericou o leite quente. Ficou fixando um ponto qualquer na parede oposta e escura enquanto o lÃquido descia por sua garganta.
- Cassidy... – disse Butch – O que houve na caverna... naquela hora?
Ela fingiu que não ouviu e deu um biscoito para Granbull, que o mastigou com gosto. Tinha aquele mesmo olhar perdido no rosto.
- Eu queria te entender... – murmurou Butch.
Ele virou o rosto, sentindo-se triste por uma razão desconhecida. O pequeno cão roxo lambia os beiços.
- Eu gostava dele, tá legal?
Butch sobressaltou-se.
- Como?!
- Eu gostava do James. Achava ele bonitinho, bobinho, engraçado... Ele era meigo, gentil, altruÃsta... Pena que era um idiota.
- Ele é um idiota, Cassidy! E, pior, é nosso inimigo!
- Mas... – ela murmurou.
- Esqueça aquele traidor! Deixe-o para trás! Como se já não bastasse eu ouvir os sermões do chefe, ainda tenho de te ouvir choramingar por um amor impossÃvel?! Ora, por favor!
Ele revirou os olhos e encarou a porta. Sentia-se furioso. Um soluço despertou-o dos devaneios.
- Cassidy?
- Me desculpe, tá legal? Mas, qual é?! São meus sentimentos! – ela disse entre lágrimas – Deixe-me sozinha, por favor...
A loira voltou a ficar quieta. Tentava reprimir os soluços. A cada tremor de seu corpo, um pouco do leite do copo caÃa no chão e Granbull bebia.
- Graun? – ganiu o cachorro, mirando a dona entre um e outro “gole” de leite.
- Desculpe... – Butch suspirou – Eu descontei minha raiva em você...
- Tudo bem... – Cassidy balançou a cabeça.
Os próximos minutos foram quase insuportáveis. Só se ouvia o som de biscoitos sendo mastigados e o “hun hun” do Granbull tristinho.
- Acha que eles estão certos?
- Como? – o garoto de cabelos verdes piscou.
- Jessie e James. – Cassidy tremeu – Acha que estão certos?
Butch pensou um pouco.
- Não sei. Realmente não sei...
- Por que os odeia tanto?
- Odiar?
- É. Você os odeia. Ou melhor, odeia o James. Por quê?
O outro membro da Equipe Rocket pareceu ser pego de surpresa por essa pergunta. Engoliu em seco e respondeu, com o rosto um pouco corado.
- Pelo mesmo motivo que você odeia a Jessie.
A loira franziu a testa, sem compreender. Butch suspirou de novo.
- Porque ele conquistou a pessoa por quem me apaixonei.
Cassidy mirou-o por alguns segundos, sem compreender. Custou-lhe absorver aquelas palavras.
Finalmente as compreendeu.
- Oh, Butch, quer dizer que...?
- Ssh! – ele colocou o indicador sobre seus lábios – Feche os olhos.
Ela obedeceu prontamente. Ele tirou uma velinha do bolso, fixou-a em uma das gotas de chocolate do biscoito e a acendeu.
- Faça seu pedido de Ano Novo.
Cassidy abriu os olhos e sorriu. Era tão cálida e aconchegante a luz daquela vela...
- Eu quero sempre...
Butch olhou-a.
- Sempre, sempre... Por toda a vida! Quero ficar ao seu lado, Butch!
Ele a olhou nos olhos, completamente pasmo. Ela lhe sorria com doçura, como nunca tinha feito. Em um único movimento, eliminou a distância que os separava.
Abraçou-a.
A ternura daquele abraço era tão cálida quanto a luz da vela.
Â
Â