Quando as três amigas chegaram àquele belo lugar, só conseguiram olhar em volta boquiabertas. As nuvens muito brancas e muito fofas tinham um leve tom rosado e lindas aves azuis, cujas asas também pareciam nuvens fofas, voavam livremente.
- Se isto é o Paraíso, então, acho que posso ter uma vida eterna feliz... – murmurou a ruiva.
- Nem me fale! – disse a de cabelos chocolate – Mas... O que fazemos agora?
Elas fitaram o enorme portão dourado e se perguntaram o que fazer em seguida. Como em resposta a seus pensamentos, um som alto ecoou pelos céus e uma linda Altaria desceu na direção delas. Pousou com suavidade nas nuvens e fechou as asas, deixando à mostra um lindo Pokémon rosado.
“Olá, meninas.” disse Mew, flutuando em pleno ar.
- Oh! Escuto uma voz na minha cabeça! – berrou a garota de cabelos anil, parecendo assustada.
“Haha! Não se preocupe. Trata-se apenas de telepatia. Bem, Misty, May, Dawn, sejam bem-vindas ao... Começo.”
- Começo? – Misty, a ruiva, arqueou uma sobrancelha.
“O lugar onde todos os seres surgem pela primeira vez e para onde voltam quando sua missão na Terra se completa.”
- Então, ficaremos aqui pelo resto da eternidade? – indagou May, a de cabelos chocolate.
“Apenas até o momento em que sua presença na Terra se fizer necessária de novo. Venham comigo!”
Mew virou-se na direção dos portões dourados, e as garotas esperaram ansiosas que fizesse algum movimento com os braços, algum movimento mágico que levasse as portas a se abrirem sozinhas.
O Pokémon, porém, apenas deu a volta nelas para chegar do outro lado.
“Vocês não vêm?” perguntou, virando-se para trás.
- Mas... E o portão? – Dawn, a de cabelos anil, perguntou enquanto contornava-o.
“É meramente decorativo.”
As três seguiram Mew pelas nuvens e logo chegaram a uma trilha dourada. Desceram por ela, fazendo questão de olhar tudo com atenção. Logo chegaram a um enorme vilarejo onde pessoas e Pokémons brincavam contentes.
- Que maravilha! – disse May – É aqui que ficaremos?
“Sim, mas antes passarão por um pequeno teste.”
- Que teste? – Misty perguntou.
“Irão saber logo!”
Elas o seguiram até uma linda floresta. Os perfumes eram incrivelmente doces e não havia insetos ali que pudessem irritá-las. Misty sentiu-se leve e tranquila.
- Mas, diga, o que acontecerá se falharmos?
“Irão descer.” respondeu Mew.
- Oh! – as três arfaram ao mesmo tempo.
“Oh, que lástima! Tinha-me esquecido do mau sentido dessas palavras! Não se preocupem, estava apenas me referindo ao vilarejo que acabaram de ver. Hoho!”
Misty e May trocaram olhares preocupados. Dawn fez uma careta. Mew, percebendo que as incomodara de verdade, resolveu dar as explicações sobre o teste.
“Vocês terão de colher flores!” disse, estendendo os braços.
- Só isso? – May teve vontade de rir.
“Se conseguirem pegar cem flores, poderão ter o que desejarem pelo resto da eternidade!”
- Oh! – Dawn levou as mãos à boca – Então, eu posso me tornar uma linda bailarina?
“Sim, claro!”
- E eu posso cuidar de Pokémons aquáticos pelo tempo que quiser? – os olhos de Misty brilharam.
“Sim, mas creio que exista alguma coisa que vocês queiram mais do que isso.”
As três puseram-se a pensar, mas foi May quem estalou os dedos e disse primeiro:
- Um homem! Por toda a vida!
- É! – as outras concordaram.
“Se assim desejarem.” disse Mew “Só precisam cumprir uma condição.”
- Que seria? – o coração de Misty batia tão rápido em seu peito que chegava a incomodar.
“Pegar cem flores sem pisar nenhum Rattata.”
- Não são duas condições? – May franziu o cenho.
- Olhe pelo lado bom. – disse Dawn – Será fácil como pegar um Slowpoke no pique-pega.
“Fico feliz em ouvir isso! Venham!”
Elas voltaram a caminhar e logo chegaram a uma campina. Uma brisa fresca soprava ali, levando a elas o perfume das flores.
“E não se esqueçam: quem pisar um Rattata deverá ir direto para a vila. Cada uma deve tentar juntar cem flores. Cem flores. Noventa e nove não é o bastante!”
- Vai ser fácil! – Dawn desviou o rosto do Mew e olhou a campina.
Então, seu sorriso desmanchou.
Deitados na grama estavam vários Rattatas. Eram tantos que mais pareciam um longo carpete lilás sobre a campina.
- Pelo Ho-Oh... – disse Dawn.
“Boa sorte.” Mew sorriu-lhes e foi para debaixo de uma árvore descansar.
- Bom... – a garota de cabelos anil respirou fundo – Nada é impossível, certo?
Ela sorriu e deu um bravo primeiro passo...
Pisou um Rattata, que berrou alto e pôs-se a correr, o que assustou a garota e a fez cair no chão.
“Tão cedo?” Mew levantou a cabeça e fitou as garotas.
- E-eu... – Dawn tremia descontroladamente – Eu vou ficar pra titia pela eternidade?!
“Ora, não se preocupe!” o Pokémon rosado sorriu “Você terá uma nova chance quando voltar à Terra.”
- E quanto tempo leva isso? – Dawn fez beicinho.
“Depende. Um dia. Uma semana. Três meses. Duzentos e cinquenta e sete anos...”
- Eu vou procurar um bom livro para ler... – a garota ficou de pé e se dirigiu à vila.
- Bom, minha vez! – disse Misty, erguendo um punho em sinal de coragem.
A ruiva começou a recolher as flores com muito cuidado. Ela praticamente se arrastava pela grama, prestando atenção nos roedores que corriam e rolavam pela campina. Depois de alguns minutos, Mew entregou-lhe uma cesta para facilitar o trabalho. May observava de longe.
- Você não vem? – Misty perguntou.
- Estou me preparando emocionalmente para isso. – May abriu um sorriso amarelo – Ei, cuidado!
A ruiva estava prestes a pisar o chão quando um Rattata jogou-se exatamente onde seu pé ia encostar. Por um breve instante, Misty cambaleou em um só pé, até que conseguiu recuperar o equilíbrio e não cair sentada em cima das flores.
- Moleza! – disse, risonha.
Ela se virou e continuou aquela curiosa prova, evitando os Rattatas da melhor forma possível. Quando chegou a cinquenta e sete flores, porém, sua sorte mudou. A ruiva não enxergou o pequeno rato lilás que se escondia entre algumas pedras e pisou sua cauda.
- Ai! Não acredito! – ela recuou, deixando a cesta cair no chão.
Mew, que dormia profundamente, acordou com o estardalhaço e coçou os olhos para ficar desperto.
“Mais uma?”
- Menos uma. – a ruiva corrigiu – Acho que vou ter de me contentar em nunca beijar ninguém...
Cabisbaixa, ela seguiu pelo caminho que Dawn tomara momentos antes. May ficou observando a cena, sentindo um aperto no peito. Não sabia dizer se era de tristeza pelas amigas ou de medo por si mesma.
“Está pronta? Ou quer desistir?”
- Vou tentar. Er, eu posso pegar a cesta que a Misty estava usando com as cinquenta e sete flores?
“Claro, por que não?”
- Não vou perder pontos por isso?
“Pontos? Querida, isto aqui não é Tetris não.”
- Neste caso...
Ela pegou a cesta e começou a recolher novas flores. Mew observava de longe. Aquela garota de cabelos castanhos era engraçada. Definitivamente, a mais atrapalhada de todas. Ele tinha certeza de que ela não duraria nem metade do tempo que aquela de cabelos anil.
Enganou-se. May, de alguma forma, sempre conseguia recuperar o equilíbrio ao evitar pisar os ratinhos. Em um momento, chegou a tropeçar, mas não caiu em cima de ninguém. Com o entardecer – não que fizesse sentido haver dia e noite naquele paraíso, mas May preferiu não questionar sua lógica esquisita – mais Rattatas surgiram na campina, dificultando a busca.
Finalmente, com noventa e nove flores no cesto, May olhou a sua volta. Quase caiu para trás. Estava completamente, absolutamente, bizarramente e mais outros “mentes” cercada de Rattatas. A flor mais próxima estava a mais de vinte passos de distância.
“Oh, querida, mas que pena. Mas não se sinta mal, você foi ótima.” disse-lhe Mew, tentando soar consolador.
Ela o encarou com olhos em chamas.
- O quê? E você acha que eu vou desistir agora? Eu desisti quando tive a chance perfeita de me declarar para aquele menino bonito do curso de coordenadores Pokémon. Não vou cometer o mesmo erro outra vez. Vou lutar por meus sonhos!
Então, para total surpresa do Pokémon rosado, May começou a berrar a plenos pulmões e a sacudir os braços como se fosse louca – o que era bem possível. Os Rattatas ficaram assustados. Alguns até bateram em retirada.
A maioria apenas afastou-se enquanto a garota andava, liberando o caminho para ela.
E assim, May conseguiu chegar à flor. Com um sorriso vitorioso, pegou-a e a colocou no cesto.
- Isso! Eu consegui!
“Você conseguiu!” Mew bateu palmas.
- Estou tão feliz! – a garota saltava e corria em círculos parecendo ainda mais louca.
“Agora, veja seu desejo realizar-se!” Mew apontou uma trilha que a garota não tinha notado antes.
Um menino caminhava por ela em direção à campina. Pela pouca luz do crepúsculo, dava para ver que ele era bonito. Devia ter mais ou menos a mesma idade de May.
Quando estava a apenas alguns passos, May o reconheceu. Os cabelos verdes. O olhar confiante. O sorriso metido. Era Drew! O garoto por quem fora apaixonada no curso de coordenadores! Ele estava naquele paraíso também! Era o destino, ela sabia.
A dois passos de distância, o brilho do olhar mudou e o sorriso desapareceu. A expressão ficou estupefata, e May pôde jurar que ele iria tomá-la nos braços e fazer juras de amor. Então, ele disse as palavras que mudariam tudo:
- Malditos Rattatas! Por que fugiram?