The pocky game

Ficwriter: Jude Melody
HunterxHunter - comédia - what-If
12 anos - yaoi/male slash - aguardando continuação


- Killua!

A voz distante e alegre alcançou o jovem de cabelos prateados em meio a seu sonho de brincadeiras infantis. Com o coração ensanguentado de seu oponente ainda em sua mão, o pequeno assassino soltou um “tsc” e arremessou o órgão pulsante para longe, fazendo-o desaparecer no horizonte. Ora, o que estava fazendo de errado? Como poderia ser tão difícil penetrar a carne do inimigo e arrancar aquilo que lhe era tão vital? Seu pai sempre realizara a façanha sem derramar uma gota sequer de sangue! Era humilhante não...

- Killua!

O assassino piscou. Pensando bem, aquele lugar era surreal demais. A paisagem acabava de repente, perdendo-se em um espaço vazio. O Hunter percebeu que estava dentro de um sonho e hesitou por breves instantes enquanto se adequava a essa nova realidade. Onde estava mesmo? E quem o estava chamando? Aliás, sobre o que mesmo era o sonho? Ele já não lembrava.

Abriu os olhos.

- Que dorminhoco! – disse Gon, fazendo beicinho.

- Gon, eu estava dormindo... – resmungou o mais velho, tentando virar de lado na cama.

Seus verdadeiros pensamentos foram um pouco mais indelicados do que isso, mas não se revelam apropriados para o presente momento. Digamos apenas que Killua pensou nas palavras que as pessoas mais velhas geralmente pronunciam quando deixam um objeto pesado cair sobre seu dedão do pé ou quando têm de repetir a mesma palavra cinquenta vezes para reservar uma vaga em uma das redes do famoso – mas não tão organizado – Hunta Hotel.

- Eu sei que você estava dormindo. – retrucou o garoto de cabelos espetados – Fui eu que te acordei.

Killua respondeu com um inteligente “huuum” e tentou virar o corpo de lado mais uma vez. Não conseguia compreender o que o estava impedindo. Parecia até que havia um peso sobre sua cintura. E uma espécie de trava em cada lado de seu quadril. Espere, ele pensou. Ainda piscando manhoso de sono, o jovem assassino percebeu que seu amigo estava sentado a centímetros de distância. Bem em cima dele.

- Saia já daqui! – bradou, empurrando o mais novo para o chão.

Gon pôs-se de pé no mesmo instante, sorrindo alegremente. Quando ficava feliz desse jeito, nada, absolutamente nada era capaz de estragar seu dia. Exceto talvez, uma notícia de que seu seriado favorito, Hiato x Hiato, havia sido suspenso mais uma vez. Quando isso acontecia, era melhor sair de perto do pequeno Freecs.

- Eu tenho uma surpresa! – cantarolou, as mãos escondidas atrás das costas.

Killua sentou-se na cama, cauteloso. Esfregou os olhos enquanto processava aquela informação. Conhecendo Gon como o conhecia, estava certo de que essa surpresa seria algo bobo e infantil. Apesar disso, o Zolyck era um curioso nato e em pouco tempo seu instinto felino falou mais alto do que a cautela que seus pais, com tanto esforço, tentavam lhe incutir.

- Que tipo de surpresa? – perguntou com interesse.

- Eu fui à sua loja de doces favorita e – ele esperou alguns segundos, criando um clima de suspense – comprei chocolate! – exclamou, estendendo os braços para mostrar a pequena caixinha que segurava.

A cor sumiu completamente do rosto já não muito corado do Zoldyck. O coração de Killua deu um pulo em seu peito e por pouco não escapuliu por sua garganta. Olhando a caixinha que o amigo trouxera, o jovem assassino teve certeza de que ele era louco. Ou, no mínimo, muito ingênuo. Sentindo-se desconfortável, retomou a cautela. Cautela redobrada.

- Gon... Você, por acaso, sabe o que é isso?

- Hum? – o Freecs piscou sem entender – Claro que sei. É chocolate.

- Não, não é qualquer tipo de chocolate. – Killua suspirou – Gon, lembra-se daquela vez que você viu aquele – engoliu em seco – pacotinho na farmácia e pensou que fossem balinhas?

- Lembro. Mas você falou para não tocar nelas.

- Exatamente. Porque não eram balinhas.

A essa altura, as faces do Zoldyck haviam sido preenchidas por um deslumbrante tom de vermelho que causaria inveja a qualquer colecionador (doentio) de pares de olhos da tribo Kuruta. Cruzando as pernas sobre a cama, Killua inspirou fundo.

- Eram camisinhas. – explicou com a paciência de um professor – Aquela coisa que o homem usa quando...

- Tá bem! Tá bem! Não precisa repetir! – ralhou o Freecs, sacudindo a cabeça com horror – Mas o que isso tem a haver com esses chocolates?

- Tem a ver com – suas bochechas coravam violentamente, e o Zoldyck já não achava mais possível que elas ficassem tão vermelhas – o fato de que esse é um chocolate para – engoliu em seco novamente – namorados.

- Namorados? – Gon arregalou os olhos – Mas são só palitinhos de chocolate.

- Não são só palitinhos de chocolate! – Killua estava começando a perder a paciência – É um jogo, está bem?

- Ah! – os olhos de Gon se iluminaram – Eu gosto de jogos! Vamos jogar, Killua?

- Não, caramba! – ele berrou.

O rubor agora descia por seu pescoço e seu cérebro gritava “Não! Não! Não!”, mas outra parte de seu corpo revidava ferozmente, bradando “Sim! Sim! Sim!”. Estamos falando do coração, naturalmente. Gon, por sua vez, recuou, olhando o melhor amigo com mágoa. Ele não queria brincar, poxa?

- Eu já falei... – Killua gesticulou, indefeso – É uma brincadeira para casais.

- Quer dizer como... – agora era o Freecs quem começava a demonstrar desconforto – Como aquela coisa em que eles... Tiram a roupa e...

- Quase isso. – o Zoldyck interrompeu-o, antes que aquela situação ficasse ainda mais constrangedora – Esse chocolate... O pocky game, como gostam de chamar... É uma brincadeira comum entre namorados. Cada um dos participantes segura uma ponta do palitinho de chocolate com a boca e... – ele estava começando a ficar sem ar por conta da respiração nervosa – Ficam mordendo até os lábios se... – Killua lançou um olhar tímido a Gon – Tocarem.

- Então... – o Freecs apertou a caixinha em suas mãos, temeroso – Eles se... Beijam?

- É. – Killua assentiu, derrotado – É isso que acontece.

- Ah...

Os dois ficaram quietos por alguns minutos, digerindo aquela conversa curiosa. Gon arrastava o tênis no piso de madeira, visivelmente perturbado com a ideia do pocky game. Killua, por sua vez, tremia de leve na cama, sentindo-se um verdadeiro fracassado. Ha!, pensou consigo mesmo. Vencido por um chocolate. Por um chocolate! Que ironia...

Ele arriscou encarar o amigo novamente e percebeu que o Freecs tinha um brilho travesso no olhar. Com a mão trêmula, ele abriu cuidadosamente a caixinha e retirou dali um belo e perfeito palitinho de chocolate. Killua aprumou-se na cama, observando.

Gon levou o palitinho à sua boca e prendeu uma das pontas entre seus dentes, abrindo um sorriso traquinas. O Zoldyck, pela segunda vez, sentiu seu coração tentar saltar para sua garganta e engoliu em seco desesperadamente para colocá-lo de volta em seu lugar. Ficou observando aqueles lábios doces, que tão secretamente desejava.

Ficar ali, aproveitar aquela brincadeira, morder a outra ponta do palitinho de chocolate e comê-lo aos pouquinhos até que seus lábios alcançassem os lábios de Gon... Seu coração cantava ao som dessa ideia.

Killua aproximou seu rosto, os olhos queimando de paixão.

Com um movimento rápido, arrebatou a caixinha das mãos de seu amigo e a atirou em um canto do quarto.

- Killua! Por que você fez isso? – gritou o Freecs, profundamente magoado.

Ele ainda fez menção de correr atrás do pacote, mas antes mesmo que desse o primeiro passo, sua perdição materializou-se no quarto na forma de um enorme labrador peludo. O cachorro cheirou o chocolate, abanando a cauda, e dirigiu um olhar inquiridor aos meninos. A pergunta era clara. Posso?

- Não! – Gon estendeu os braços e acabou pisando o palitinho que sem querer deixara cair no chão ao gritar com o Zoldyck.

- Senta! Senta! – bradou Killua, ficando de pé sobre a cama.

Kurode abriu um sorriso canino e abocanhou os palitinhos, com caixa e tudo. Desesperado, o Freecs atirou-se em sua direção, mas o labrador, que de ingênuo só tinha o focinho, disparou pela porta do quarto e se dirigiu ao esconderijo secreto no qual se abrigava sempre que queria devorar em paz algum sapato.

 

 

 

 



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