Imperdoável encantamento por Jude Melody


 

Imperdoável encantamento

Ficwriter: Jude Melody
Harry Potter - drama, romance - original
15 anos - aguardando continuação


Os sussurros ecoam pela masmorra como uma música ambiente. Sentado em um dos sofás, eu observo os alunos do segundo ano praticarem feitiços maldosos nos novatos. Eles parecem tão idiotas, mas não sei até que ponto posso censurá-los. Afinal, não sou tão diferente deles.

Distraído, pego-me pensando naquela garota arrogante de cabelos cacheados. Penso em seus olhos castanhos e profundos, que parecem enxergar dentro de mim. Penso em seus lábios finos, que se comprimem sempre que lhe dirijo a palavra. Penso em suas mãos delicadas, mas que seguram a varinha com tanta firmeza no momento de lançar os feitiços. Essas mãos que eu queria tanto sentir em meu rosto.

O sangue-ruim que preenche suas veias causa-me repulsa. Como pode um príncipe como eu sentir-se atraído por uma simples plebeia? Como pode um bruxo talentoso como eu olhar para uma trouxa como você? Como pode alguém como eu... não se apaixonar por alguém como você?

O grito de um dos meninos do primeiro ano interrompe meus pensamentos. Ele está chorando por causa de sua nova cauda de cachorro. Seu torturador solta uma profunda gargalhada, incitando seus amigos a zombar da pequena presa. Eu sei muito bem como funciona o jogo. Os filhos dos sangues-puros menos sucedidos tornam-se os brinquedinhos dos filhos dos sangues-puros de status mais alto. É uma herança que se transmite de geração para geração.

Irritado, levanto-me e subo as escadas. Crabbe e Goyle fazem menção de seguir-me, mas eu os dispenso com um movimento rápido. Entro em meu quarto particular e fecho a porta atrás de mim, entregando-me à minha solidão.

Não há janelas à minha volta, apenas as pedras de coloração verde que preenchem as masmorras. Essa ausência nunca representou problema algum. Hoje, por algum motivo que não compreendo, ela me sufoca.

Deito-me na cama, pensando na sangue-ruim. Pensando na Granger.

Quando foi que perdi o juízo assim? Quando foi que perdi minha honra assim? Eu não sei dizer... Só sei que me sinto ainda mais humilhado do que quando aquele idiota do Alastor Moody transformou-me em uma doninha diante de meus amigos. Aquela ao menos é uma dor com a qual eu posso conviver.

Esse sentimento, porém, é algo que não posso suportar. Ele aperta meu peito, martela minha mente, causa-me pulsações que não deveria sentir. Por quê? Por que logo a Granger? Por que não a Parkinson ou alguma outra garota da Sonserina? Por que logo uma Grifinória? Por que logo uma sangue-ruim?

Com o braço cobrindo os olhos, entrego-me às minhas dúvidas. Deixo meus pensamentos correrem soltos e visitarem a garota geniosa que mora atrás do quadro da Mulher Gorda. Consigo vê-la debruçada sobre uma das mesas, enterrada em seus livros. Ela brinca com uma pena longa e branca enquanto reflete sobre o dever que a Professora Sinistra passou. Seu rosto é iluminado pela lareira, uma lareira de fogo vermelho e vibrante, não o fogo verde e sombrio que temos aqui embaixo.

Eu estou perdendo essa batalha. De novo. Isso acontece sempre que paro para pensar. Por isso, não posso pensar. Eu preciso apenas reagir. Ofender. Provocar. Preciso tornar os seus dias tão ruins quanto possível, quem sabe até fazendo-a chorar escondida no banheiro feminino...

Então, a minha imagem abraçando-a, consolando-a, surge com força em minha mente, e não há feitiço que a contenha. Eu poderia até retirá-la, jogar esse fio de névoa indesejado em uma Penseira, e esperar até ele desaparecer em meio à substância etérea... mas logo haveria outras imagens, talvez ainda piores, talvez envolvendo mais do que simples abraços...

Penso nas mãos que gostaria de sentir em meu rosto. Penso nos lábios que gostaria de sentir nos meus. Penso nos olhos que gostaria de ver sorrindo para mim.

Penso em como ela faz meu sangue puro ferver dentro do meu corpo, ardente, desejoso, cálido, como o fogo da lareira que a ilumina enquanto estuda Astronomia.

Eu me sinto tão humilhado por este sentimento... Sinto-me destruído por esta fraqueza, por esta desonra. Tento inventar mentiras, tento culpar os outros, tento machucá-la, mas nada disso diminui o que eu sinto aqui dentro.

O pior de tudo é que eu sei, bem lá no fundo, que, se pudesse escolher, se pudesse mudar esse fatídico destino que recaiu sobre mim, se pudesse recuperar minha própria honra e a honra de toda a minha família, se pudesse esquecer a Granger de uma vez por todas e rir diante das desgraças que a atingem, eu...

Eu faria tudo de novo, exatamente da mesma maneira. Porque, afinal, como pode alguém como eu não se apaixonar por alguém como você?

 

 



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