Por Trás das Palavras. por kk salvatore


 

Por Trás das Palavras.

Autoria: kk salvatore
Originais - drama, romance, comédia - original
15 anos - violência extrema -


 

CAPÍTULO I - Táticas de Jogo / Sentimentos Estranhos.

 

"Amo seu sorriso, amo sua alegria, amo seu jeito, amo quando fica concentrada estudando, amo mais ainda quando tem que apresentar algum trabalho na frente da turma, seu rubor me fascina. Por que tinhas que está em um pólo oposto ao meu?"

Desço da arquibancada guardando meu pequeno caderno. São 12:57, daqui a pouco o sinal tocará dando início ao segundo roud de aulas. Vou indo à sala de aula.

– Pierre, onde você estava? A galera estava te procurando pra ver as táticas do jogo, é no próximo sábado, cara. - bronqueou Schneider, voltando-se pra mim assim que pus os pés na sala.

A galera do futebol reunira-se no fundo da sala de aula pra discutir os planos pro próximo jogo, e com razão Schneider pegava no pé, sou o capitão.

– Estava ocupado. - fui sucinto.

– Ocupado... sei. - viajou Igor, encarando-me malicioso, não acreditando nas minhas palavras. – No banheiro?? Pondo a cabeça no lugar ? - a risada foi geral. Da maneira sério como estava permaneci. Meu olhar foi suficiente pra fazer as hienas ficarem quietas.

– Na biblioteca, senhor engraçado, estudando pra matemática, coisa que você tambem deveria fazer né, Igor. - fui sarcástico, apoiando minhas mãos em seus ombros que se encolheram e depois baguncei seu cabelo.

– Pode ser que você tenha razão - rebateu, teimoso feito uma mula sem dar o braço a torcer. - Pode ser... pode ser... pod... você tem razão. - fingiu estar cabisbaixo. - Mas eu já tô lascado mesmo, terceiro bimestre, se não aprendi nada até aqui, agora mesmo que não vou aprender. - concluiu, voltando a sorrir despreocupadamente.

– Isso vale pra você, meu caro. - disse sentando-me na roda feita com as carteiras. - Se eu levar rasteira em alguma matéria nesse último ano pode ter certeza que não ganho meu Corola, e fico andando de ônibus pra sempre.

– Agora tá explicado pra que tanta determinação pra estudar - ironizou Schneider, sorrindo - tem uma recompensa.

– E que recompensa! - e me imaginei pilotando aquilo tudo de carro. - Aproveito e uno o útil ao agradável, tenho que passar de ano mesmo. Mas esquecendo isso, fala aí, que que vocês decidiram. - mudei de assunto antes que me perguntassem mais sobre a matéria que eu (não) estudei.

– Então, reunião com a técnico e o diretor na segunda, não sei pra que, mas é obrigatório. - informou Diego, nada contente. - Amanhã treino na quadra depois das aulas. 3,14r, dose extra de pênalti, o jogo contra o Inácio Gouveia poder ser acirrado, então vamos precisar do seu máximo. Atacantes, Schneider, Carlos e Oliver, o foco de segunda vai ser voltado pras faltas, o técnico quer ver onde ainda se deve melhorar.

– Pra mim estamos prontos pra quebrar!! - vibrou Carlos.

O barulho ensurdecedor do alarme foi ouvido.

– Rápido galera é aula de história, algo a acrescentar? Capitão? - todos olharam pra mim, compenetrados de que aquilo era importante não só pra escola, como pra cada um deles tambem. É nessa hora que eu deveria honrar com meu papel de líder e falar algo inteligente e motivador, que desse aquela injeção de ânimo neles como um voto de confiança em mim e no time, mas tudo o que me veio em mente foi:

– Oliver, quero você na marca do pênalti. - falei convictamente sério e confiante. O assombro foi compartilhado.

– Mas capitão, o meu chute... - tentou falar o menino, pra logo ser cortado por mim.

– É com o seu chute que eu vou treinar amanhã, então prepare-se, e não quero desculpa esfarrapadas! - sorri brincalhão, conseguindo fazer o rosto do Oliver sair do modo " assustado" pro " fascinado". A verdade é que esse garoto tem um potencial incrível, e cabe a mim aperfeiçoá-lo.

– Tudo bem, Pi-er-re, não me responsabilizo pelos meu chutes. - provocou. - Se eu quebrar seu braço não é culpa minha. - se vangloriou. Gargalhei com a provocação.

– Não podemos dar um pouquinho de mérito que o moleque já se acha! - zombei.

Nesse momento, a professora Mercedes, uma senhora de meia idade, entrou na sala despejando sua pilha de livros sobre sua mesa de mogno.

– Os alunos aí atrás, podem desfazendo essa panelinha, colocando as carteiras no lugar e virando pra frente. - deu sua boa tarde a professora, enquanto atravessava a sala e encostava a porta.

A contragosto fizemos o ordenado. A turma nos observava, mas um olhar em especial me chamou a atenção: o dela.

A menina olhou de um a um do nosso grupo e deteve o olhar sobre mim, quando percebeu que tambem a encarava. Não sei quanto tempo durou, pra mim parecia que todos a nossa volta estavam congelado e só se moviam eu e ela. Meu estômago gelou e logo depois senti meu coração disparar, meus pensamentos eram incoerentes do por quê de eu não querer desfazer o encontro dos nossos olhares, se conseguisse. Meu corpo simplesmente travou diante do castanho dos olhos dela, e uma sensação prazerosa se alastrou por ele. Nunca senti nada parecido com isso, com ninguém, por que ela fazia eu me sentir assim ? Me chamar atenção é uma coisa, qualquer mulher que passe na minha frente não será despercebida. Agora, me fazer sentir isso que, nem sei como explicar, é completamente diferente.

Ela virou pra frente quebrando, o que pra mim foi "a nossa conexão", me fazendo cair na real de forma dolorosa, tal como quando estou lendo algum livro tão bom, que eu "me perco" nele de tão absorto em suas ideias que estou, e alguém me chama, me arrancando da realidade do livro.

Coloquei minha carteira na fileira do canto rente a janela, pelo menos não teria que prestar atenção na chatisse da revolução de canudos, era só assistir a algum filme aí, e está tudo certo.

Aproveitei o "tempo livre" pra tentar por as ideias no lugar.

"Temos jogo no sábado, festa do Igor depois do jogo e teste na segunda, dá tempo de estudar no domingo. Não, espera! Minha mãe marcou de dar faxina na casa nesse domingo, meu deus do céu! Ferrou !

– ENTÃO, PIERRE!! - pulei na cadeira sobressaltado.

– Oi. - respondi com o coração na garganta, e um pouco alto demais.

– Perguntei o que se entende por revolução de canudos? - ouvi a professora questionar.

– Foi a revolução em que os canudinhos protestaram contra a má qualidade, e o tempo excessivo de trabalho?! Resultando em passeatas e quebradeira no centro da cidade?! - e pisquei pra professora. A risada foi geral.

– Muito boa essa, cara! - falou Carlos e espalmamos as mãos.

– Huuum, quero ver essa animação no dia do teste. - sorriu perigosamente alegre a sra. Mercedes. Um daqueles tipos de sorriso que você sabe que dali não vem coisa boa.

– Mas professora, você não tem teste marcado. - interviu alguém lá na frente. Esses nerds sempre com um calendário na cabeça.

– Não tinha. Teste na quinta feira! Primeiro tempo, e sem atraso, senhores. - anunciou sarcástica, ainda com o sorriso debochado. - Valendo metade da nota do bimestre. - Sussurrou diabolicamente, a turma inteira reclamou veementemente.

– Temos jogo contra o Inácio Gouveia no sábado, 'fessora, vamos treinar a semana inteira!! Não tem como ser na próxima quinta? - perguntou desesperado Oliver.

– Sra. Mercedes, as líderes de torcidas terão ensaio geral na quarta pro jogo dos meninos, como vamos fazer pra estudar pro seu teste? - foi a vez da Silvana, responsável pelo grupo das líderes de torcida, reclamar enquanto olhava da professora pra mim e vice-versa, tentando me chamar atenção, fixei o olhar na professora, ignorando-a e deixando a garota com raiva.

– Isso é problema de vocês, deveriam ter dado prioridade à escola e aos estudos antes de se encherem de cursos extras.

– Mas isso faz bem pro aluno! Você já foi aluna sabe como é chato passar metade do dia preso na escola. - tentou Leonardo, inconformado. Era um absurdo isso!!

– Não comecem com as desculpas, porque como você mesmo disse, eu já fui aluna e tambem conheço as desculpinhas esfarrapadas.

Levei as mãos ao rosto derrotado.

– Professora, não poderei vir na quinta - alguém que quase não tinha ouvido se pronunciou, uma voz tão suave quanto baixa. Levei um chute por baixo da mesa que vi ter sido Schneider, ele fez sinal com a cabeça pra frente, então olhei pra lá.

Era "ela" que estava falando, minha atenção foi totalmente perdida nela. - Tenho médico nesse dia. - abaixando ainda mais o volume da voz. Médico? Ela tá doente? Senti meu estômago despencar de forma incômoda, me surpreendi ao constatar que estava preocupado com ela. Como é que eu posso estar preocupado com essa garota que nem conheço?

– Terá que me trazer o atestado médico, Cecília, na segunda seguinte pra poder fazer o teste. - falou pra menina como se pedisse desculpas por não poder fazer mais que isso.

– Tudo ok. - assentiu de volta.

– Peraí, 'fessora, que eu tambem tô doente! - gritou do fundo da sala o Igor - Olha só. - e forçou a tosse - Eu tô mal, acho que vou ficar com febre na quinta, não, ficarei de cama.

Ela achou graça, junto da turma.

– Vai brincando com coisa séria. - e negou com a cabeça.

Igor tentava passar a perna na professora, porém de meus pensamentos não saía a possibilidade de ser algo sério com "ela"; eu sou um idiota mesmo, devem ser somente uns exames de rotina e eu aqui enlouquecendo sozinho, ainda mais por alguém que nunca troquei mais que duas palavras ou algumas saudações.

Assim que o sinal tocou informando o fim da aula, os materiais começaram a ser recolhidos. Fiquei observando "ela" se arrumar pra sair, pra depois me dar conta que meus materiais permaneciam do mesmo jeito desde o começo da aula, e comecei a joga-los de qualquer forma na mochila.

– Por que não chama ela pra sair? - me perguntou uma voz.

– Oi?

– A baixinha lá na frente. - continuou Schneider, enquanto eu guardava meu caderno de anotações. - Por que não a chama pra sair?

– Não sei do que você tá falando. - desconversei colocando a mochila nas costas esperando os garotos terminarem de se arrumar, e sem querer meus olhos sondaram o começo da sala.

– Tudo bem se não quiser falar sobre isso, nem abrir o jogo, sem problemas, mas tenta disfarçar suas secadas nela, assim como eu descobri mais alguém pode perceber e não ser tão discreto que nem eu.

– Que mané secada, Schneider, tá maluco? - me virei pra ele, e pude ver pela visão periférica o borrão roxo do casaco "dela" saindo pela porta.

 

 



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