O menino ergueu seus olhos tímidos, buscando os cabelos ruivos que tanto adorava. Eles estavam logo ali, balançando livres enquanto a menina fazia alongamentos antes de entrar na água. O professor soou o apito, e ela se posicionou na borda da piscina. Mais um som estridente, e ela mergulhou.
Não existiria som
se não houvesse o silêncio.
Ele cerrou os punhos com força, contendo seus tremores. Era noite de Halloween, e sua turma fazia uma excursão pela floresta assombrada. Um monstro abóbora saltou de um arbusto, assustando um grupo de colegas e uma professora distraída. Ele esteve a ponto de gritar, mas uma mão gentil segurou a sua. Quando o menino virou o rosto, encontrou os olhos verdes de sua melhor amiga. E, de repente, não havia mais medo.
Não haveria luz
se não fosse a escuridão.
Que soco maravilhoso! Aquele metidinho de nariz empinado saiu correndo, gritando para todos que quisessem ouvir que a menina era mesmo braba. Ela pôs as mãos na cintura, soberba. Sua nova mascote, uma tartaruguinha azul, imitou-a, cheia de graça. A alguns metros de distância, caído no chão, o menino observava tudo boquiaberto.
Seu rival abordara-o sem qualquer aviso prévio, importunando-o com assuntos que não lhe interessavam. Sua amiga surgiu quase tão de repente quanto ele e desferiu-lhe um lindo soco no nariz empinado. Normalmente, ela era anjo. Mas, quando mexiam com seu melhor amigo... Ah! Ela ficava danada!
A vida é mesmo assim,
dia e noite, não e sim.
Ela sempre cantava nas vésperas de Natal. Ele gostava de escutar. Não perdia uma só música. Sentado entre as irmãs mais velhas dela, ficava quietinho, imóvel, absorvendo aquelas letras cheias de amor e esperança. Naquela noite, porém, havia algo diferente. O coração dele começou a bater forte. Não havia mais saída. Ele estava apaixonado.
Cada voz que canta o amor
não diz tudo o que quer dizer.
Era a primeira vez que ele a via chorando. Que coisa mais horrível de se ver! O rosto que tanto adorava estava escondido nas mãos delicadas. Os ombros eram sacudidos pelos soluços. O garoto aproximou-se e tocou os cabelos ruivos da amiga. Ele, de pé. Ela, sentada na poltrona da sala que eles tantas vezes compartilharam quando jogavam videogame juntos.
Havia tantas coisas que queria dizer. Mas os pais dela haviam ido embora. Para sempre. E o pai dele sumira há muito mais tempo. Não precisava dizer nada, no fim das contas. Eles se entendiam no silêncio.
Tudo o que cala
fala mais alto ao coração.
Ele fitava a fogueira, nervoso. Ao seu lado, o ratinho amarelo, seu mais novo amigo, devorava uma frutinha azul. O garoto estava longe de casa há quase uma semana e sentia muita falta de sua mãe. Mas sentia mais falta ainda da ruiva. O que ela estaria fazendo a essa hora? Como estariam ela e sua fiel tartaruguinha, que, afinal, já não era mais tão filhote assim? Ele se decidiu. Ligaria para ela assim que chegasse à próxima cidade.
Acordou cedo no dia seguinte, colocou a mochila nas costas e assobiou para o ratinho amarelo. Juntos, eles atravessaram a floresta, enfrentando diversos monstros. Ser treinador não era nada fácil! Mas ele estava determinado a seguir os passos do pai. Aquele sempre fora seu sonho. Certo? No entanto, sentia-se tão vazio sem sua amiga de infância.
A cada passo, uma lembrança diferente o invadia, e ele ria com momentos que ficaram no passado. Depois de horas, chegou a seu destino, e qual não foi sua surpresa quando, apenas três segundos após entrar no hospital, foi recebido por um abraço forte e cheiroso. A garota afastou-se, sorrindo, e em um só fôlego soltou as palavras. Ela fugira do ginásio. Fugira das irmãs detestáveis. Iria acompanhá-lo. Para sempre.
O garoto entrou em choque. Porque a promessa foi selada com um beijo. Era para ser um selinho rápido, mas foi o suficiente para quebrar sua sanidade. Agora até as bochechas de sua amiga estavam ruivas. Ela passou as mãos pelos cabelos, sempre sorrindo, e dirigiu-se ao roedor, para disfarçar.
Eles não falaram do beijo pelo resto daquele dia. Nem no dia seguinte. Nem no dia depois. Viajavam juntos, almoçavam juntos e, por vezes, dormiam juntos, costas contra costas. O rato e a tartaruga brincavam um com o outro, disparando faíscas e bolhas por todos os lados. Era divertido vê-los juntos, mas também perigoso. Bastava um olhar do garoto, um suspiro da garota... E pronto! Lá estavam os dois de mãos dadas sem querer! Disfarça! Disfarça!
Mas logo depois, seus olhares se encontravam. Cúmplices. Eram apenas dois adolescentes, mas isso não importava. Eles simplesmente se amavam. Nas noites mais conturbadas, ele ficava acordado enquanto ela dormia. Observava-a sem emitir qualquer som. Perdia-se em seu rosto calmo. Como ele podia gostar tanto assim de alguém? Como?
Silenciosamente eu te falo com paixão.
O sonho acabou em uma tarde tranquila de outono. Eles estavam sentados no refeitório do hospital, tomando o café da manhã. Ela fez uma piadinha implicante, e ele beliscou sua perna por baixo da mesa. Isso a deixou furiosa! Logo os dois estavam correndo pelo cômodo quase vazio, incomodando as outras pessoas. Ele disparou para o hall de entrada. Ela foi atrás. Ele se virou, rindo. Ela estancou em seu lugar, assustada.
Mas o que era agora? Com o cenho franzido, ele olhou na mesma direção que ela e quase deu um salto mortal para trás. Parada em frente a porta, a jovem loira fitava a irmã caçula com um olhar severo. Não adiantava discutir, mas a ruiva era teimosa. Elas gritaram blasfêmias uma para a outra. Choraram. Chamaram a atenção da enfermeira, que veio apartar a briga com várias broncas em seus lábios. Por favor! Aquilo era um hospital! Havia monstrinhos doentes ali!
Depois de algumas horas perturbadoras, a garota foi até o quarto em que estava hospedada e, entre soluços, começou a arrumar sua mala. O garoto aproximou-se e tocou seu braço, mas ela se desvencilhou e foi até o armário pegar as poucas roupas que trazia consigo. Guardou-as junto com os outros pertences.
Estava prestes a colocar a mala no chão quando ele a abraçou por trás, encostando seu rosto no dela. Isso foi o suficiente para fazê-la estremecer sem controle, imersa na desolação. Ela queria ficar. Queria muito ficar. Mas precisava ir.
E ela se foi.
***
A sétima insígnia não o fez mais feliz. Fazia meses que viajava sozinho, enfrentando os líderes de ginásio de cada cidade por onde passava. Mas não estava feliz. Ele sentia falta dela. Sentia falta de seu sorriso. De sua voz. De suas provocações. De seus lábios.
Teria sido diferente se ele a tivesse beijado naquele último dia em que ela esteve a seu alcance? Será que ela teria ficado se ele tivesse dito que a amava e a queria por perto? Será que ela o amava também? Ele não sabia.
Era véspera de Natal agora, e sua mãe ligou para pedir que ele voltasse para casa. O garoto sentia falta dela também, mas seria impossível retornar a sua cidade de origem em tão pouco tempo. Prometeu que estaria lá no Ano Novo.
Quando desligou o telefone, dirigiu-se ao sofá e se jogou sobre as almofadas, exausto. O rato amarelo sentou-se ao seu lado e deitou a cabeça sobre sua coxa, choramingando baixinho. Sentia a dor de seu mestre, mas não sabia como amenizá-la. No fundo, a ausência da ruiva também o afetava. Os dois amigos compartilhavam da mesma tristeza.
O treinador fechou os olhos e respirou fundo. Lembrou-se das noites de Natal que passara na casa da amiga de infância. Lembrou-se dela cantando as músicas. Como era linda a sua voz! As canções o preenchiam com tanta alegria, com tanta esperança, com tanto... Amor... Sim, ele se lembrava de tudo. Fora na música que ele descobrira seu sentimento mais lindo. E agora esse sentimento queria guiá-lo para o local em que ele queria estar.
Eu te amo calado
como quem ouve uma sinfonia
A neve densa não o impediu de prosseguir viagem. Ele pediu ajuda a seus monstrinhos, e todos se prontificaram a ajudá-lo. Mesmo com todo esse apoio e carinho, não foi possível completar a missão no tempo desejado. Ele só chegou a seu destino dois dias depois do Natal. Cansado e dolorido, o garoto apertou o embrulho amassado em suas mãos.
Mas, antes, era preciso visitar sua mãe. Ela o recebeu com um abraço apertado. Foi logo trazendo um cobertor e um copo de chocolate quente. Na verdade, dois copos, pois o ratinho também estava com frio. Enquanto esperava o jantar no sofá da sala, o garoto sorria. Era bom estar em casa. Era bom sentir os cheiros familiares que sempre associara à sua mãe, ao seu lar.
Dormiu como uma pedra na cama arrumada. Seu quarto estava exatamente do mesmo jeito que deixara vários meses atrás. O porta-retratos com a foto da época da escola ainda estava sobre a escrivaninha. Apenas ele e ela sorrindo para a câmera. O braço dele sobre os ombros dela. Dois bons amigos divertindo-se em uma tarde de primavera.
Quando o dia amanheceu, ele saiu de casa correndo, deixando o fiel monstrinho amarelo para trás. Certas coisas se deve fazer sozinho. Reunir coragem para declarar seu amor era uma delas. Pegou um ônibus e se deixou levar até a cidade para onde a ruiva fora levada depois que seus pais se foram. A cidade azul. O último ginásio.
Chegou ao prédio já abrindo as portas e fazendo estardalhaço. O local era bem maior que os outros ginásios. Não tinha apenas o campo de batalha, mas um aquário inteiro. Depois de correr para cá e para lá, finalmente encontrou uma enorme piscina, como aquela da época da escola. Sentada na borda, uma jovem ruiva balançava os pés dentro da água.
O treinador não coube em si de tanta felicidade. Queria correr até ela, abraçá-la, beijá-la. Mas ela o viu antes disso. Com os olhos verdes arregalados de surpresa, pôs-se de pé. E os dois ficaram parados. Como dois tolos. Como dois amantes que se perguntam se estão sendo iludidos por seus corações.
Ele foi o primeiro a se mover. Parou diante dela, enamorando seus olhos verdes. Ela se moveu em seguida, erguendo uma das mãos para tocar seu rosto. Os dois sorriram. Não precisavam de palavras. Nunca precisaram.
de silêncio e de luz.
Ela ficava linda com aquela jaqueta azul. Durante horas, ficou desfilando para ele, andando de um lado para o outro pela borda da piscina. Ele a puxou pela cintura e lhe deu um beijo, o enésimo daquele dia, e sussurrou em seu ouvido. Linda. Linda. Linda.
Com o rosto ruivo de vergonha, ela se afastou, tímida, e perguntou o porquê daquele presente. Ele respondeu com um sorriso convencido e acenou com a cabeça na direção da porta. Para sua surpresa, ela hesitou. Mas, por quê? Ela apenas balançou a cabeça. Não podia fugir de novo. Não era mais criança. Era hora de parar de fugir.
Magoado, ele começou a gritar. Precisavam fugir. Do contrário, ela jamais seria livre. Mas a garota continuou balançando a cabeça. Se fugisse, viveria como uma prisioneira de seus próprios medos. Precisava ficar. Se fosse para sair do ginásio, teria de fazer isso direito. Teria de enfrentar as irmãs.
O garoto enfureceu-se. Aquelas bruxas nunca deixariam a caçula ir embora! Com os olhos marejados, ela balançou a cabeça pela terceira vez. Não podia abandonar os monstrinhos do ginásio. Eles dependiam dela. As irmãs também. Elas não sabiam batalhar. Só sabiam fazer shows. Se a ruiva fosse embora, seria mais fácil as mais velhas simplesmente distribuírem insígnias aos desafiantes.
Ele recuou, ferido. Não acreditava no que estava ouvindo. O que acontecera com sua amiga de infância? Aquela menina corajosa que socava o narizinho empinado dos metidinhos da escola? Aquela garota que caminhava com ele pelas florestas durante horas sem soltar um resmungo sequer? Aquela amante que nunca deixaria o amor deles acabar?
Um pigarro despertou-o para a realidade. Com um sobressalto, ele se virou para trás. E lá estava ela de novo. A loira maldita. Ela inclinou a cabeça para o lado, a mão na cintura. Abriu a boca para perguntar, mas a caçula a interrompeu. O garoto já estava de saída.
Ele teve um novo sobressalto. Virou-se para a amiga. Os olhos dela não estavam mais marejados. Ela encarava a irmã com coragem. Mas também o expulsava. Triste e confuso, ele se afastou sem dizer nada. Saiu do ginásio, pegou um ônibus e voltou para casa.
***
Desta vez, foi o garoto quem deu um soco no metidinho de nariz empinado. O rival cobriu o rosto com as mãos, proferiu blasfêmias e se afastou, deixando algumas gotas de sangue no caminho. Ainda estremecendo, o treinador jogou a mochila sobre os ombros e seguiu seu caminho pela trilha da floresta. Que cara imbecil! Como se atrevia a falar mal de sua amiga? Só porque a derrotara no ginásio, isso não lhe dava o direito de humilhá-la!
Mas não era só isso que o incomodava. O rival fizera outro comentário, um muito mais nojento. Dissera que a ruiva até era bem bonita. Proferiu palavras indizíveis. No segundo seguinte, seu nariz estava quebrado. Talvez, assim, ele deixasse de ser metido.
Quando chegou à nova cidade, o garoto logo procurou um hospital para seus monstrinhos. Estava triste e cansado, sem vontade de fazer nada. Passou o dia deitado na cama, ouvindo música. E se perguntando se fizera a coisa certa.
O verão o levou de volta ao ginásio. Ele abriu as portas com calma e seguiu devagar pelos corredores. Procurou pela sala de batalhas e anunciou sua presença como desafiante. Seu queixo caiu quando a ruiva entrou no cômodo. Ela vestia apenas um maiô azul-marinho com um jaleco branco por cima. Estava ainda mais linda do que se lembrava.
Ela também ficou surpresa ao vê-lo. Não, não queria enfrentá-lo! Mas ele não desistia fácil. Insistiu em batalhar. Disse que, sem a oitava insígnia, jamais se classificaria para a Liga. O discurso não a convenceu. Havia muitas outras cidades com ginásios, caramba! Ele que procurasse sua oitava insígnia em outro lugar! Mas ele jurou que só iria embora se ela o enfrentasse.
E eles lutaram.
Ambos eram muito fortes. As batalhas foram acirradas. No último round, apenas a tartaruga e o rato sobraram. Foi difícil para os monstrinhos lutarem um contra o outro, mas havia tanto em jogo. Eles não podiam simplesmente ignorar as ordens de seus mestres.
Após vários minutos intensos, ele venceu. A garota passou a mão pelos cabelos, suspirando. Caminhou até o desafiante pela borda da piscina e lhe estendeu a insígnia. Mas ele a puxou pelo braço e lhe deu um beijo longo e apaixonado que apenas o desespero poderia provocar. Ela se afastou com o rosto em chamas, exclamando o nome dele.
O garoto tentou puxá-la de novo, mas ela resistiu, e tanto lutaram os velhos amigos que caíram na piscina, gritando. O bandeirinha correu com uma barra de ferro nas mãos, pronto para dar uma porrada no tarado que ousou atacar minha líder! Mas a garota estava rindo e disse que estava tudo bem. Ela jogou os braços ao redor do pescoço do treinador e lhe deu um beijo.
Os dois ficaram abraçados durante um longo tempo. Constrangido, o bandeirinha retirou-se do cômodo, fechando a porta ao sair. Os amantes não perceberam. Estavam concentrados demais um no outro. Quando finalmente saíram da água, estavam sem fôlego, mas felizes.
Sentaram-se na arquibancada e conversaram longamente. Ela ainda não podia deixar o ginásio. Ele assentiu. Apesar de não gostar nada daquilo, compreendia. Prometeu não insistir mais em seus pedidos. Ela pediu para ele ficar, mas isso significaria perder a Liga. Não. Ele queria seguir seus sonhos. Quem sabe encontrar o pai que há muito o abandonara. Ela assentiu. Apesar de não aprovar aqueles desejos, compreendia. Prometeu não insistir em seu pedido.
Eles estavam no fim da linha agora. Trocaram um último olhar cúmplice. E disseram adeus.
Obter a décima sexta colocação em sua primeira tentativa não era nada mal. Sentado em sua escrivaninha, ele admirava a insígnia conquistada na Liga. Não trouxera o troféu para casa, infelizmente, mais adquirira uma experiência valiosa e conhecera muitos treinadores interessantes. Depois de conversar com sua mãe e permitir que ela o mimasse mais um pouco, seguiu viagem na companhia de seu fiel monstrinho.
Ficou decepcionado quando chegou ao ginásio e não encontrou sua amiga. O bandeirinha, o mesmo do último encontro, disse-lhe que havia uma nova líder no local, uma prima distante que batalhava tão bem quanto as três irmãs sensacionais dançavam. Não sabia informar onde estaria a ruiva. Surpreso, o treinador agradeceu e se retirou.
Agora ele caminhava sem rumo pelas ruas da cidade. Não fazia ideia de onde procurar. Quando a noite caiu, entrou em um restaurante qualquer e pediu um lanche. Mordiscou duas batatinhas e entregou o prato ao ratinho amarelo, que devorou tudo com gosto. Estava a ponto de deixar o local quando ouviu uma voz familiar.
Com o coração batendo forte no peito, correu até a seção de karaokê. A mulher terminou de cantar, agradeceu os aplausos e se virou para ele, surpresa. Uma professora sempre reconhece seus ex-alunos, e ela se lembrava muito bem daquele menino tímido que vivia grudado na menina ruiva.
O treinador não fez rodeios. Perguntou o que a professora fazia ali. Ela respondeu que estava de férias e decidira visitar o aquário da cidade azul. Encontrara sua ex-aluna, mas ela estava de saída. As duas trocaram pouquíssimas palavras. O garoto quase engasgou diante dessa informação. Para onde ela foi?!
Bem... Havia um lugar...
Certas coisas são tão curiosas! Foi só ele sair de casa para visitar sua amiga de infância, que ela decidiu sair do ginásio para visitá-lo! Os dois se desencontraram por um mero acaso do destino. Agora ele caminhava pela antiga floresta assombrada, que, no final das contas, não era tão assombrada assim. Era uma floresta normal e tranquila, mas que ficava infestada de monstros abóbora quando chegava o outono. No verão, ela se enchia de flores.
Ele não precisou de muito tempo para encontrá-la. Foi muito simples localizar seus cabelos ruivos em meio ao verde vivo. Aproximou-se de mansinho e chamou seu nome. Ela se virou, arregalando os olhos. Estava vestindo a jaqueta azul apesar de o dia estar bastante quente. Eles se encararam.
Nós somos medo e desejo, somos
Ela foi a primeira a se mover. Parou diante dele, enamorando seus olhos castanhos. Ele se moveu em seguida, erguendo uma das mãos para tocar seu rosto. Os dois sorriram. Não precisavam de palavras. Nunca precisaram.
feitos de silêncio e som.
O beijo era ainda melhor do que eles se lembravam. A saudade, o medo, o desejo, tudo dentro deles parecia fervilhar. Depois de tanto tempo, sentiam que finalmente poderiam ficar juntos. Quem sabe até para sempre. Ele, um treinador ambicioso e empenhado. Ela, uma coordenadora elegante e dedicada. Não demorou muito para que fizessem sucesso por aí, um casal que encanta a todos com seu amor pelos monstrinhos, com seu amor um pelo outro.
Passaram-se dois anos. Logo chegou o segundo Natal que passavam juntos, como namorados. Bom, pelo menos por enquanto. Sentado no sofá, ele sorria para a jovem que cantava a toda voz para as irmãs e a sogrinha. Nenhuma delas sabia, mas, dentro no bolso do casaco, ele segurava uma pequena caixinha de veludo.
Durante dias, ele se perguntara o que iria dizer à mulher que tanto amava, mas agora sentia que só precisava se ajoelhar diante dela, dizer seu nome e mostrar o anel. E sentia que ela não precisava dizer sim. Seu sorriso deslumbrante seria mais do que suficiente. Palavras não era necessárias para eles. Nunca foram.
Tem certas coisas que eu não sei dizer...