Leorio era um homem paciente. Ele ouvia todos com bastante calma, desde as criancinhas que não sabiam falar direito até as senhorinhas que cismavam estar à beira da morte. Enquanto manuseava o estetoscópio, perguntava como fora o dia na escola, como estavam as crianças, como o marido se sentia após tomar os medicamentos que a cardiologista indicara. Todos no hospital gostavam muito dele por conta dessa paciência. Sentiam-se acolhidos. Era como se até mesmo a menor dorzinha tivesse espaço naquele coração enorme.
Acontece que tudo tem seus limites. E o limite de Leorio era o olhar meio culpado do loirinho que se sentava na cama, esperando o jovem estagiário. Durante algum tempo, eles ficaram em silêncio, apenas se encarando. Vencido, o mais velho soltou um longo suspiro, passou a mão pelos cabelos e se aproximou calmamente, murmurando baixinho palavras de autoincentivo. Cruzou os braços quando parou de frente para o mais novo. Esperou pelo cumprimento que não viria.
— Eu não sei se fico feliz por você ter vindo me visitar, ou se fico triste por essa ser a única maneira de você lembrar que eu existo.
O loirinho não respondeu. Contentou-se em devolver o olhar sarcástico de Leorio. Por cima de seu ombro, avistou o chapeuzinho da outra estagiária, uma jovem sorridente chamada Tohru. Ela era maravilhosa, mas suas mãos atrapalhadas não serviam para aquele tipo de trabalho. A pobrezinha viva derrubando frascos de vidro, bandejas com instrumentos perfurocortantes, seringas contaminadas e outros materiais perigosos. Ninguém nunca a via derrubar uma caixinha de plástico com algodão.
— Vai me contar seus sintomas, ou não vai? — questionou o mais velho, emburrado.
Ao ouvir o tom de voz do colega, Tohru tratou de sair rapidinho do quarto, derrubando um frasco de analgésicos no caminho. Felizmente, não o quebrou. Com um murmúrio de desculpas, ela pôs o objeto em seu devido lugar e sumiu pelo corredor. O cômodo mergulhou em profundo silêncio. Leorio, de pé, sustentava o olhar do loirinho. Foi necessário mais um minuto inteiro até que o mais novo finalmente estendesse o braço.
— Eu me machuquei — disse em um sussurro.