Filme mudo

Ficwriter: Jude Melody
HunterxHunter - comédia - alternaverse
livre - yaoi/male slash - completa


Uma música animada começa a tocar enquanto o garoto de cabelos brancos bagunçados caminha pelas ruas cinzentas. Com as mãos nos bolsos, ele sorri para as pessoas ao seu redor. Está feliz, e sua felicidade não tem explicação. Em verdade, ela tem, mas não há necessidade de ser dita. Vê-se a alegria em seu rosto felino. De que mais precisamos além de seu sorriso? Ele entra em um parque e desaparece do cenário. Não lhe daremos muita atenção agora. O que importa é o que está no fundo, um jovem vestindo um tabardo por cima das roupas brancas, o rosto enterrado em um livro de capa dura.

Ele ergue o rosto após alguns passos, avistando outro jovem, que acena alegremente. Este corre na direção do primeiro com um sorriso nos lábios, a mão na nuca, desajeitada. Ele se apruma todo em seu terno, conserta os óculos que deslizam pelo nariz, faz alguns gestos com os braços inquietos e derruba o livro sem querer. Em sua trapalhada de dizer sem palavras que apanhará o objeto, quase acerta os olhos do outro com os dedos. Abaixa-se, segura o livro e começa a levantar, mas sua cabeça levanta o tabardo, que parece ter gostado de seus cabelos negros. Nosso leitor salta para o lado, e lá se vai um tapa no rosto do pobre atrapalhado! Não ouvimos seu som, mas a dor se imagina.

Enquanto o jovem de terno esfrega a face atingida, o outro se afasta a passos largos até desaparecer. Sozinho no cenário, ele suspira e coloca as mãos nos bolsos, tal como o garoto que vimos descendo as ruas mais cedo. Caminha pelo parque, guiando nossos olhos atentos. Que susto! Quase foi atingido no rosto outra vez! Mas pelo quê? Um menino de cabelos impossivelmente espetados surge em cena, esfregando a nuca com a mão desajeitada. Com a outra segura uma vara de pescar. Ele gesticula um pouco, e o mais velho acompanha o movimento do anzol, parecendo hipnotizado.

Aproximando-se do menino, junta as mãos e estende os braços. Não compreendemos o que quer dizer quando os move para cima e para baixo. Não parece fingir martelar alguma coisa, e de que lhe adiantaria martelar o ar? Mas o pequeno pescador compreende suas intenções e, uou, com que habilidade balança sua vara e faz o anzol zunir para fora do cenário! Ficamos maravilhados, mas só por alguns segundos. E então? Que passará?

O mais novo começa a puxar a vara. Dá alguns passos para trás, suspira com o esforço. Temos o vislumbre de um tênis vagamente familiar no cantinho do cenário. Foi tão rápido, que quem piscou o perdeu. Oh! É o garoto do começo, o de cabelos brancos bagunçados, girando, todo enrolado na linha, até cair sentado no chão. Nós rimos de seu espanto quando ele arregala os olhos para os outros dois. Seus lábios se movem furiosamente, e o menino de cabelos espetados olha para baixo, envergonhado.

Já o jovem de terno balança a cabeça, visivelmente insatisfeito. Move seus lábios também, sacudindo o dedo diante do pequeno pescador, que parece a ponto de chorar. O garoto de rosto felino luta contra a linha, livra-se dela, passando-a por cima do corpo. Ergue as pernas e com um salto brilhante — alguns de nós abrem a boca de surpresa — põe-se de pé. Ele move as mãos habilmente, e ranhuras brancas surgem entre seus dedos. Como ele faz isso? Toca suavemente o braço do mais velho, que começa a tremer todo na dança mais estranha que já vimos. Parece que levou um choque.

O pobrezinho cai no chão, desacordado. O pequeno pescador não sabe se olha para ele ou para o garoto das ranhuras. Começa a balançar os braços, o anzol girando para todos os lados, e não se surpreende menos do que nós quando o outro toca seus lábios com um indicador e abre um sorriso. Ele lhe dá um beijo na bochecha, e a tela fica completamente negra, exceto pelo coração branco no meio. Quando a luminosidade volta, os dois estão de mãos dadas e caminham juntos para fora do cenário. Suspiramos com tanta doçura, só para rir logo em seguida, quando o jovem dos óculos tem outro tremelique.

O jovem do tabardo aparece outra vez, sem o livro. Talvez o tenha perdido. Ele pisa sem querer o corpo do pobre desmaiado e treme também. Não há sentido lógico nessa piada, mas quem somos nós para reclamar da física quando um garoto acabou de produzir eletricidade com as mãos? Ainda desorientado, nosso leitor balança a cabeça e olha com espanto para o amigo. Ajoelha-se a seu lado, faz menção de tocar seu rosto, mas hesita. E se levar um choque de novo?

Ele move os lábios, talvez chamando o jovem de terno. Depois de breves segundos, este abre os olhos e começa a se sentar, esfregando o rosto. Seu amigo tenta ajudá-lo a ficar de pé. O gesto é recebido com satisfação, muito obrigado. Eles sorriem como bobos um para o outro, e uma maçã suicida despenca da árvore sob a qual estão, atingindo a cabeça do jovem dos óculos. O gracejo é ainda mais mágico por não termos reparado na árvore antes. Que árvore? Ora, aquela ali. Quão difícil é localizar uma árvore cinzenta nesse cenário?

O jovem do tabardo está rindo da forma mais educada que consegue, com uma das mãos cobrindo a boca. O outro fica indignado. Começa a gesticular como louco, apontando a árvore e depois chacoalhando o indicador bem debaixo do nariz do nosso leitor. Com uma expressão de poucos amigos, chuta a maçã da discórdia, apenas para que uma segunda maçã caia em sua cabeça logo em seguida.

As mãos do jovem do tabardo agora estão na barriga. Ele não consegue parar de rir. Furioso, o de terno se afasta a passos largos. Acompanhamo-lo com pesar enquanto ele caminha pelo parque com as mãos nos bolsos. Passa pelos meninos de antes, que estão sentados em um banco, tomando sorvete. Os dedos das mãos livres estão entrelaçados. Uma graça! O garoto das ranhuras vira o rosto, e sua expressão é de quem vai roubar um beijo. Ah, o de cabelos espetados empurrou o sorvete contra seus lábios, sujando-o todo! Essas crianças...

O mais velho sorri para eles e continua a se afastar. Deixa a praça para trás e se aventura nas ruas movimentadas da cidade. Ele já sabe para onde quer ir, e não demora a chegar. No anfiteatro, dirige-se ao palco e observa a tarde cinzenta. De súbito, vira-se para nós, mas não é a nós que está olhando. O rosto do jovem do tabardo surge diante de nossos olhos. Ele sorri, mas o outro não corresponde. Vemos nosso leitor outra vez. Ele continua sorrindo e levanta uma mão coberta de anéis, acenando alegremente.

A postura do jovem de terno se altera. As mãos já não estão mais nos bolsos. Ele faz que não com a cabeça, mas o de tabardo faz que sim. Vemos os dois de frente um para o outro, a ansiedade crescendo a cada segundo. Temos uma maravilhosa visão do pobre azarado virando as costas para nós e começando a correr. E depois vemos nosso leitor balançando o braço quase com poesia — e de onde veio essa corrente que dança ao seu redor?

Ela é lançada no ar e prende o jovem dos óculos tal como a linha da vara de pescar fizera momentos antes com o garoto das ranhuras. O de tabardo vira o rosto travesso para nós, como se nos perguntasse o que deveria fazer. A resposta é mais do que óbvia. Queremos que ele puxe a corrente, e ele puxa.

Os dois são abarcados pelo cenário enquanto o jovem de terno, imobilizado, arrastado pelo chão, aproxima-se cada vez mais do outro. Quando chega a seus pés, as correntes somem, deixando-o livre. Ele cruza os braços, ranzinza, mas seu amigo já está se agachando a seu lado, o sorriso travesso estampado gloriosamente em seu rosto. Ele rouba um beijo de seus lábios, e nós não precisamos da tela negra com o coração branco para saber que eles estão apaixonados. Talvez o mais velho não seja tão azarado assim, no fim das contas!

Ambos ficam de pé. Entrelaçam as mãos. A música animada continua tocando enquanto eles deixam o anfiteatro e a tela fica escura outra vez.

 

 

















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