De todos, ele fora o único a não apresentar qualquer desenvolvimento como ser humano. Nascera frio e morreu gelado. Em sua mente deturpada, era o guardião mais fiel e mais devoto. Acompanhava o Rei com serenidade, cumprindo todas as ordens. No começo, pelo menos.

Shaiapouf não admitiria, mas estava traçando seus próprios planos. Seguia o curso que julgava melhor, desobedecendo a vontade de seu mestre supremo. Não que desejasse o lugar do soberano. Isso nunca. Que audácia! Que blasfêmia! Ele apenas era calculista, nada de mais. Queria que tudo fosse perfeito. E a presença daquela humana... Pouf crispava os lábios só de pensar.

Sem perceber, tornou-se um traidor. Enganando o próprio Rei, usando seu irmão. Mas a frieza de Pouf foi também sua ruína. Pois ele não teve a capacidade de notar a mudança. Via os olhares? Sim. Ouvia as palavras? Certamente! No entanto, havia algo lá no fundo que fugia ao alcance de sua compreensão. E, de tanto desejar compreender seu Rei, Shaiapouf tornou-se o pior dos vassalos.

Lutou. Com todas as suas forças. Lutou até o fim. Seu prêmio? Falecer em meio ao nada, esquecido por todos. Sem o irmão. Sem o Rei. Apenas só.

As asas da borboleta não bateriam mais.